Apresentação
A educomunicação diante dos novos
ecossistemas midiáticos
doi: https://doi.org/10.26439/contratexto2025.n43.7920
Contratexto é uma revista voltada para contribuições e pesquisas relacionadas a diversos aspectos da comunicação. Por isso, promove uma ampla gama de temas, sempre atuais e relevantes. Nesta edição, adentramos o campo da Educomunicação, como área que une educação e comunicação, enfrentando diversos desafios diante da nova cidadania democrática que emerge no contexto digital. Essa abordagem adquire uma relevância extraordinária frente a desafios como a persistente exclusão digital, que isola a participação de populações vulneráveis ou desfavorecidas dentro do ecossistema democrático e midiático; a escassa formação em acesso e gestão de dados e informações, o que leva ao consumo de notícias falsas, à manipulação de conteúdo, ao aumento da desinformação e à limitação da capacidade cidadã de tomar decisões informadas; e, por outro lado, as crescentes possibilidades de criação, interação e difusão de todo tipo de ideias e informações, permitindo a visibilidade e expressão de todo tipo de conteúdo.
Seguindo a linha da revista como fórum de reflexão e discussão crítica e plural, publicam-se nesta edição contribuições interessantes que reúnem um elenco de 19 pesquisadoras e pesquisadores de instituições do Peru, da Bolívia, de Portugal e da Espanha. Os trabalhos abordam, em diferentes perspectivas, a Educomunicação e a Alfabetização Midiática, evidenciando a necessidade de investigação na área, de formação em Alfabetização Midiática e Informacional (AMI) em todos os níveis da sociedade, especialmente entre profissionais da mídia e da educação, considerando habilidades como busca, gestão, tratamento, produção e recepção de informações e conteúdos para o desenvolvimento de uma comunicação inteligente.
A partir do desenvolvimento do pensamento crítico, da problematização dos conteúdos veiculados pela mídia, da tomada de decisões de forma fundamentada e da participação democrática, o trabalho de Rojas-Estrada, Ramos-Neyra, Lara-Guillén e Ramírez-Rodríguez analisa a gestão crítica da informação entre estudantes de ensino superior no Peru, no contexto da crise sociopolítica de 2022-2023. Suas conclusões enfatizam a importância de experiências formativas nessa área. Em linha semelhante, no artigo “Produção de recursos educativos para a Educação Midiática na escola: perceções e necessidades dos professores”, as doutoras Matos, Festas e Bobrowicz-Campos destacam a relevância e a responsabilidade das escolas e do corpo docente para realizar, desde a infância, a educação midiática. Além da importância da educação midiática e do papel da escola e dos docentes em seu desenvolvimento, o estudo evidencia a insuficiente formação e as necessidades do professorado nessa área.
Outra contribuição interessante é “O gênero documentário e a alfabetização audiovisual nas faculdades de comunicação em universidades ibero-americanas”, de Karbaum Padilla, Rejano Peña e o Dr. Barredo Ibáñez, que examina o papel do ensino do gênero documentário na alfabetização audiovisual, em faculdades de comunicação, como parte da alfabetização midiática e da educomunicação. O estudo ressalta a necessidade de integrar, de modo mais formal e estratégico, a alfabetização audiovisual nos currículos universitários, para fomentar competências críticas e criativas, destacando os diferentes níveis de alfabetização observados, para os quais se propõe uma tipologia.
Também relacionado com a formação universitária de comunicadores, o trabalho de Rivadeneyra-Olcese e da Dra. Bardales-Mendoza, “Estudos sobre educação midiática na formação universitária de comunicadores: uma revisão sistemática exploratória”, destaca não ter recebido atenção suficiente, embora se constate interesse pelo tema.
Com abordagens mais gerais, desta vez relacionadas à alfabetização midiática e às políticas públicas, o estudo intitulado “Análise qualitativa do consumo informativo e das atitudes políticas dos jovens em relação à democracia e cidadania no sul da Bolívia”, de Durán Sandoval, Sandoval Ortuste, Hernández Veizaga, Veliz Rejas e Alarcón Torrez, investiga os hábitos de consumo informativo e as atitudes políticas atuais de estudantes do ensino médio bolivianos. O artigo constata que sua principal fonte de acesso à informação são as redes sociais. Também mostra que são críticos quanto à independência dos meios e à credibilidade das redes, que apoiam a democracia e que desconfiam dos políticos.
Aprofundando na alfabetização midiática como chave para fomentar uma cidadania crítica e participativa, o artigo “Colaboração global e Alfabetização Midiática: análise crítica de casos internacionais sobre a gestão e participação educativa”, de Niño-Romero e da Dra. Delgado-Ponce, analisa iniciativas de diferentes meios voltadas a audiências na América do Norte, América Latina e Europa. As pesquisadoras concluem que é necessário haver colaboração entre os meios e o setor educacional, o que nos remete novamente ao foco deste número, a educomunicação.
As contribuições selecionadas constituem uma amostra variada do panorama da educomunicação, suas possibilidades, necessidades e os desafios que devem ser enfrentados a partir da investigação e da prática dos profissionais da comunicação e da educação.
Equipe Editorial Convidada
Dra. Amor Pérez-Rodríguez
Universidad de Huelva, España
Dra. Vanessa Matos dos Santos
Universidade Federal de Uberlândia, Brasil
Dr. Édgar Dávila-Navarro
Universidad Mayor de San Andrés, Bolivia