Integrando
Comunicação e Medicina no ensino da Comunicação Comunitária: uma experiência
brasileira inovadora
Giovana Mesquita[1]
Universidade Federal de
Pernambuco, Brasil
giovanamesquita@yahoo.com.br
Carolina Paz[2]
Universidade Federal de
Pernambuco, Brasil
carolpaz07@gmail.com
Resumo. É possível uma interdisciplinaridade entre os cursos de
Comunicação e de Saúde no ensino da Comunicação Comunitária? Teoricamente
alguns autores, sobretudo do campo da saúde, já discutem essa integração
(Araújo & Cardoso, 2007). Mas para além de uma produção bibliográfica, essa
integração é quase inexistente nas salas de aula brasileiras. Dessa forma, o
objetivo do artigo é compartilhar uma experiência interdisciplinar no ensino da
Comunicação Comunitária, com ênfase em práticas de cidadania, envolvendo os
cursos de Comunicação e Medicina de uma universidade pública, situada no
Nordeste do Brasil. Estamos alinhadas com Peruzzo (2013, p. 176) no
entendimento de que a Comunicação Comunitária “contribui para formar cidadãos
capazes de compreender o mundo e de se organizar para transformá-lo”.
Palavras-chave: Comunicação comunitária / promoção da saúde / cidadania / educação superior.
Integrando Comunicación y Medicina en
la enseñanza de la Comunicación Comunitaria: una experiencia brasileña innovadora
Resumen. ¿Es posible una interdisciplinaridad entre un curso de
comunicación y de salud en la enseñanza de la Comunicación Comunitaria?
Teóricamente algunos autores, incluso del campo de la salud, ya discuten esa
integración (Araújo &
Cardoso, 2007). Además de una producción bibliográfica, esa integración es casi
inexistente en las aulas brasileñas. De esta forma, el objetivo del artículo es
compartir una experiencia interdisciplinaria en la enseñanza de la Comunicación
Comunitaria, con énfasis en prácticas de ciudadanía, involucrando los cursos de
Comunicación y Medicina de una universidad pública, ubicada en el Nordeste de
Brasil. Estamos alineados con Peruzzo (2013, p. 176) en el entendimiento de que
la Comunicación Comunitaria "contribuye a formar ciudadanos capaces de
comprender el mundo y de organizarse para transformarlo".
Palabras clave: Comunicación
comunitaria / promoción de la salud / ciudadanía / educación universitaria.
Integrating the Communication and Medicine in the teaching of Community Communication: an innovative brazilian experience
Abstract. Is it possible to have an interdisciplinarity between Communication and Health courses in the teaching of Community Communication? Theoretically, some authors, especially in the field of health, already discuss this integration (Araújo & Cardoso, 2007). But beyond a bibliographical production, this integration is almost non-existent in Brazilian classrooms. Thus, the objective of the article is to share an interdisciplinary experience in the teaching of Community Communication, with emphasis on citizenship practices, involving the Communication and Medicine courses of a public university located in Northeast Brazil. We are aligned with Peruzzo (2013, p. 176) in the understanding that the Community Communication "contributes to the formation of citizens capable of understanding the world and organizing itself to transform it".
Keywords: Community communication / health promotion / citizenship / college education.
Integrando Comunicação e Medicina no
ensino da Comunicação Comunitária: uma experiência brasileira inovadora
Introdução
O objetivo deste artigo é compartilhar uma experiência
interdisciplinar no ensino da Comunicação Comunitária, com ênfase em práticas
de cidadania, envolvendo os cursos de Comunicação e Medicina de uma
universidade pública, situada na cidade de Caruaru, Nordeste do Brasil.
Teoricamente alguns autores, sobretudo do
campo da saúde, já discutem essa integração entre as ciências da comunicação e
o campo da promoção da saúde (Araújo & Cardoso, 2007). Mas para além de uma
produção bibliográfica, essa integração é quase inexistente no contexto de sala
de aula, nos cursos de graduação em Medicina e em Comunicação no Brasil.
Para trazer essa experiência para a sala de
aula, duas docentes de uma universidade pública, situada no Nordeste brasileiro
resolveram oferecer a disciplina eletiva, reunindo conteúdos de Comunicação
comunitária e Promoção da Saúde. Com 60 horas aula, a disciplina foi ofertada
pelo curso de Comunicação e além dos estudantes do próprio curso, foi
disponibilizada para alunos de Medicina, Pedagogia, Administração e Design.
Caruaru, onde o curso foi ofertado, é a
segunda maior cidade do estado de Pernambuco, localizada no interior do
Nordeste do Brasil, com 314.912 habitantes, de acordo com o censo de 2010,
feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) . Em 2018, a
estimativa do IBGE era que Caruaru já tivesse 356.872 moradores.
Conhecida pela sua famosa feira de
artesanato, que atrai visitantes de todas as partes do mundo, a cidade também é
considerada o maior centro de artes figurativas da América Latina, tendo
ganhado fama pela obra do Mestre Vitalino, ceramista que retratou em suas peças
o cotidiano sofrido do povo nordestino, marcado por uma situação de pobreza e
exclusão, com dificuldades sociais, educacionais e de saúde generalizadas.
Além da tradicional feira de Caruaru e do
Alto do Moura, comunidade de artesãos que dá continuidade a produção de peças
de arte figurativa após a morte do Mestre Vitalino, a cidade possui uma
grandiosa festa junina, durante 30 dias, com muita música, danças e comidas
regionais.
Somada a essa riqueza cultural, a cidade
também tem despontado economicamente como Pólo de Confecções e, junto com mais
outras três cidades circunvizinhas, Toritama, Surubim e Santa Cruz, integra o
Pólo de Confecções do Agreste. De acordo com o Sindicato das Indústrias de
Confecção do Estado de Pernambuco, o polo têxtil pernambucano é o segundo pólo
de confecções do Brasil. Só no ano de 2018, o Pólo de Confecções do Agreste
empregou mais de 100 mil pessoas. São 18 mil empresas de confecções reunidas
nas quatro cidades, que respondem por 75% da economia do pólo, segundo o
Sebrae-PE.
Apesar de Caruaru ter apresentado um
crescimento econômico nos últimos anos, isso não tem trazido melhoria das condições
de vida da população, pois a região é marcada pela desigualdade social, com
graves situações de pobreza e populações com grau extremo de vulnerabilidade.
Indígenas, quilombolas, ciganos, negros são exemplo de populações ainda
marginalizadas.
Assim, o município de Caruaru não apresenta
características de que passa por um processo de desenvolvimento local. Como
observa Mesquita (2016):
Para se configurar um processo de
desenvolvimento local não basta apenas crescer economicamente, é preciso
aumentar os graus de acesso das pessoas não só à renda, mas à riqueza, ao
conhecimento e ao poder ou à capacidade de influir nas decisões públicas
(Franco, 2000). E para influir nas decisões públicas é necessário que as
pessoas, pelo menos, conheçam os problemas regionais. Nesse sentido, o papel da
Comunicação Comunitária é fundamental. (p. 2)
Como destaca Santos (2000) ao assumir a
perspectiva do desenvolvimento local cabe à comunicação, assessorar, planejar e
executar políticas de comunicação voltadas para diminuir a exclusão nos
contextos populares. Esse papel assumido pela comunicação leva a um processo de
mudança, não uma mudança induzida, mas uma mudança construída a partir do
diálogo e da mobilização (Santos, 2000).
O maior desafio global, de acordo com a
Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, adotada por 193 países em 2015,
é a erradicação da pobreza em todas as suas formas (Nações Unidas, 2015). A
conquista de direito a moradia adequada, educação, saúde, proteção social,
dentre outros está na agenda local dos cursos de Medicina e Comunicação
oferecidos por essa universidade pública.
Marco teórico
Estamos alinhadas com Peruzzo (2013, p. 176) no
entendimento de que a Comunicação Comunitária “contribui para formar cidadãos
capazes de compreender o mundo e de se organizar para transformá-lo”. E que
essa transformação acontece “na perspectiva do outro desenvolvimento,
participativo e sustentável, cuja economia seja estruturada para atender
prioritariamente as necessidades humanas”.
Assim, Comunicação Comunitária é para Peruzzo
(2013):
uma “outra” comunicação uma vez
realizada por setores organizados das classes subalternas, de acordo com as
necessidades de mobilização social, de falar com seus públicos e de externar
sua visão de mundo na sociedade, com vistas a conquistar a hegemonia. (p. 168)
Essa outra comunicação, segundo Peruzzo (2013),
além de contribuir para construir processos
de comunicação; tem um papel na educação informal e não-formal das pessoas
da comunidade, e na criação de meios (canais) de comunicação.
Mário Kaplún (1985, p.7) refletindo sobre o
fenômeno da comunicação popular e alternativa, entende ser “uma comunicação
libertadora, transformadora, que tem o povo como gerador e protagonista”. Para
Kaplún (1985, p.17), as mensagens são produzidas “para que o povo tome
consciência de sua realidade” ou “para suscitar uma reflexão”, ou ainda “para
gerar uma discussão”.
A promoção da saúde (PS) é definida como um
fortalecimento da teia social de pessoas e comunidades para elas terem controle
sobre a sua saúde (OMS, 1986). A PS é uma área essencialmente interdisciplinar
e intersetorial, e trabalha com conceitos como empoderamento, vulnerabilidade
social, direitos humanos e justiça social (Rabello, 2010; Vasconcelos; Costa,
2014; Czeresnia; Freitas, 2009 & Hofrichter, 2003).
Na disciplina Comunicação Comunitária saúde é
definida como um direito humano, por meio do qual indivíduos, famílias,
comunidades e populações devem gozar de bem-estar físico, psicológico e social
(OMS, 1948; Turiano & Smith, 2008).
Para a Organização Mundial de Saúde, reunida na primeira conferência sobre promoção
da saúde em 1986, os pré-requisitos para a saúde são: ecossistema e recursos
sustentáveis, moradia, paz, alimentação, educação, renda, justiça social e
equidade (OMS, 1986). Ambos conceitos implicam uma visão política e social das
ações de saúde, fazendo com que indivíduos, comunidades, organizações e
governos se envolvam e atuem politicamente para resolução das iniquidades
sociais e de saúde.
O efeito negativo da pobreza e das
iniquidades sociais na saúde das pessoas, comunidades e populações tem sido
reportado por vários estudos e organizações públicas (Hofrichter, 2003; Krasnik
& Rasmussen, 2002 & Organização Pan-Americana da Saúde, 2007). Bégin (2010) escreve, enfaticamente, que
injustiças sociais matam pessoas em grande escala. Assim, reduzir as
iniquidades sociais tem sido um dos maiores objetivos do setor saúde e da
Promoção da Saúde.
Sob essa perspectiva, mais recentemente, a PS
vem tomando um posicionamento mais radical em relação a inserção das pessoas no
seu processo saúde-doença, inclusive defendo que transformações sociais e
mudanças políticas são necessárias para melhorar a saúde das pessoas (Collins;
Hayes, 2007& OMS, 2005). Tradicionalmente, a PS está mais envolvida com
questões de mudança de comportamento, como controle do tabagismo, prevenção da
obesidade e diminuição de sedentarismo, consideradas abordagens individuais de
PS (Labonte, 1994). Entretanto, sabe-se que os determinantes sociais de saúde
impactam muito mais na vida e nas escolhas das pessoas do que questões
psicológicas, por exemplo (Laverack, 2009).
Trabalhar num conceito ampliado de saúde foi
um dos objetivos da disciplina, que encontra intercessão na Comunicação
Comunitária na forma de fazer os estudantes mobilizarem indivíduos, grupos e
comunidades em torno de uma pauta que é importante para a transformação social.
Dessa forma, o planejamento e desenvolvimento da disciplina foram centrados na
reflexão de que a pauta da transformação social exige uma comunicação
contra-hegemônica, mobilizadora, participativa e, portanto cidadã.
A formação cidadã faz parte da estrutura
curricular dos cursos de Medicina e de Comunicação. Mas a disciplina
Comunicação Comunitária potencializa esse processo, contribuindo para a
interdisciplinaridade e integração entre diferentes áreas.
Entendemos a cidadania como o processo de
atuação do estudante em seu mundo, em um processo de ensino-aprendizagem
reflexivo e ético. Esse conceito utiliza a concepção freiriana de cidadania e
educação, na qual a educação é um processo de conscientização, a fim das
pessoas transformarem o seu entorno, dando significado ao próprio ato educativo
(Freire, 1996). Freire também embasa teoricamente essa disciplina quando
defende que nas ações comunicativas, não há sujeito passivo (Freire, 1983).
Dessa forma, todos os processos de intervenção devem ser enraizados em uma
relação dialógica com a comunidade. Mais do que apenas intervir em algum
problema, busca-se amplificar essa relação, abrindo novos caminhos de interação
e comunhão.
A cidadania, assim, amplia o seu significado
mais comum – normalmente voltado a garantia de direitos e exercício de deveres
– para uma concepção atuante, inovadora e libertadora, fazendo com que
estudantes e comunidade aprendam uns com outros e nesse processo de
aprendizagem, a transformação social ocorra.
Metodologia
No que diz respeito aos métodos utilizados para a
construção do artigo, optamos pelo relato de experiência, uma metodologia muito
comum na área da educação e saúde (Wall, Prado & Carraro, 2008; Souza,
Souza Alves & Souza, 2005 &Ferraz, 2012). O relato da experiência é
utilizado para descrever e dar publicidade a intervenções e seus resultados,
destacando a integração entre teoria e prática envolvida na intervenção (Moura
& Lacerda, 2016). A relevância do relato está na sua pertinência e
importância dos resultados que a intervenção produziu.
Além do relato de experiência, elaboramos
também um questionário com dez perguntas, sendo três abertas e sete fechadas
para levantar a experiência dos estudantes sobre a interdisciplinaridade entre
Comunicação e Saúde no ensino da Comunicação Comunitária.
No total foram feitas 11 entrevistas, a
partir de um roteiro disponibilizado no Google Docs. Além da pergunta-problema:
“é possível uma interdisciplinaridade entre Comunicação e Medicina no ensino da
Comunicação Comunitária”, os estudantes foram convidados a responder as
seguintes questões: quais foram os principais ganhos para a sua formação ao ter
cursado essa disciplina, como os conhecimentos trabalhados nas duas disciplinas
contribuíram para a realização dos projetos desenvolvidos junto as comunidades,
sobre a continuidade dos projetos desenvolvidos nas comunidades, se tinha
valido a pena cursar uma disciplina de Comunicação Comunitária trabalhando
conteúdos de Comunicação e de Saúde, se a interdisciplinaridade entre Saúde e
Comunicação contribuiu para uma maior atenção para as necessidades sociais e de
saúde das pessoas em situação de vulnerabilidade.
No questionário havia ainda espaço para
identificação do respondente (nome, idade, curso e período, quando cursou a
disciplina Comunicação Comunitária e qual o projeto que desenvolveu como
conclusão da disciplina).
Responderam ao questionário, 11 estudantes,
sendo um do curso de Pedagogia, um do curso de Medicina e nove do curso de
Comunicação. A idade dos respondentes varia entre 18 e 33 anos. Para manter um
anonimato dos respondentes, identificamos os entrevistados apenas pelo curso.
Discussão
Os cursos de Medicina e de Comunicação que optaram por
essa interdisciplinaridade no ensino da Comunicação Comunitária funcionam em
uma universidade pública inaugurada no interior do Estado de Pernambuco,
Brasil. O Centro Acadêmico do Agreste(CAA) é um campus relativamente novo,
inaugurado em março de 2006, dentro de uma perspectiva de contribuir com o
desenvolvimento social, econômico e cultural do interior do Estado.
O CAA veio suprir a necessidade de ensino
gratuito e de qualidade na região, tendo iniciado suas atividades com cinco
graduações, nas áreas de Administração, Economia, Engenharia Civil, Pedagogia e
Design, que integram quatro Núcleos de Ensino (Gestão, Design, Formação Docente
e Tecnologia). Atualmente, funcionam também as licenciaturas em Química, Física
e Matemática, o curso de Engenharia de Produção e a Licenciatura Intercultural,
direcionada à população indígena de Pernambuco.
O Curso de Comunicação Social da Universidade Federal de Pernambuco,
campus começou a funcionar no segundo
semestre de 2015 e, atualmente, conta com 116
estudantes de 20 municípios, 18 professores, além do corpo técnico.
Destacando-se por ser uma proposta inédita no ensino superior do estado, o
curso se propõe a diversificar o leque de escolhas dos vestibulandos ao
propiciar uma formação diversa das habilitações tradicionais, inserida no
contexto das novas mídias. Estabelece também uma relação necessária e
pertinente - especialmente no caso da cidade de Caruaru, que é um pólo cultural
importante - entre a Comunicação e a Produção Cultural. No ano de 2018, o curso
foi avaliado pelo Ministério da Educação, obtendo conceito 5, que é a nota
máxima aplicada em cursos inovadores e que cumprem as exigências do instrumento
de avaliação, incluindo infraestrutura, corpo docente e organização
didático-pedagógica.
O curso de Comunicação Social oferece aos
estudantes um núcleo básico de disciplinas obrigatórias nos três primeiros
semestres. A partir do quarto período há um leque de disciplinas
eletivas referentes às duas ênfases que compõem a estrutura do curso: Mídias
Sociais e Produção Cultural. Assim, o aluno tem a possibilidade de concentrar
suas escolhas em uma das ênfases, bem como buscar uma formação que contemple
disciplinas de todas as ênfases, a depender dos seus interesses específicos em
cada uma delas.
Conforme o Projeto Pedagógico do curso de Comunicação da
UFPE (2018):
Essa organização tem como objetivo propiciar uma
visão ampla do campo da Comunicação Social, com uma formação teórica
consistente, assim como reforçar o processo de flexibilização e respeito à
vocação do aluno conforme as diretrizes curriculares nacionais em vigor. Dentre
as disciplinas do ciclo profissional, estão previstos os “Tópicos especiais”,
que dão margem à discussão de novos temas que venham a surgir no campo da
Comunicação e da cultura, fruto das demandas da sociedade e das constantes
inovações tecnológicas que repercutem na prática profissional do comunicador e
do produtor cultural. (p. 11)
Ainda de acordo com o PPC (2018):
A estrutura do curso permite, portanto, o aluno
focar a sua formação em qualquer uma das duas ênfases propostas: Mídias Sociais
e Produção Cultural. Porém o aluno tem também a possibilidade de cumprir os
créditos necessários para sua formação sem ter que cursar as disciplinas
necessárias para concluir uma das ênfases. Neste caso, terá uma formação
generalista. (p. 11)
As questões referentes às relações
étnico-raciais serão abordadas em grande parte dos componentes curriculares do
curso. O mesmo ocorre com as questões emergentes referentes à Política de
Educação Ambiental, por se tratarem de problemas contemporâneos de urgente
relevância e com as Diretrizes Nacionais para a Educação em Direitos Humanos.
Esses temas têm especial relevância no currículo das disciplinas: Mídia e
Cidadania, Educomunicação, Comunicação e Culturas Populares e Comunicação
Comunitária.
Além dessa preocupação em incluir no
currículo temas transversais, o curso é estruturado dentro de uma abertura para
a interdisciplinaridade com áreas afins, mais especificamente as ligadas à
arte, à cultura e às Ciências Sociais puras ou aplicadas. Mas a relação com o
curso de Medicina foi inédita.
No Brasil, o setor saúde vem sendo submetido
a um significativo processo de mudança. A Constituição Federal de 1988, no
artigo 196, junto com leis e normas editadas ao longo de mais de 30 anos de
Sistema Único de Saúde, adicionada às Diretrizes Curriculares Nacionais da
graduação em Medicina de 2014 (Resolução CNE/CES nº 3, de 20 de junho de 2014),
promoveram um incentivo a mudança na educação para formar recursos humanos em
saúde para a transformação das condições sócio-econômicas, munidos de
responsabilidade acadêmico-científica, ética e humanística.
O curso de Medicina do Centro Acadêmico do
Agreste iniciou suas atividades em 2014, mas nasce de um anseio da cidade que
vem da década de 1950. O curso foi aberto dentro do âmbito do Programa Mais
Médicos para o Brasil. Instituído pela lei 12.871, de 2013, é a política
pública mais recente de incentivo a formação médica, que impacta positivamente
na garantia de direito da população. Atualmente, é o único curso de Medicina de
Caruaru. O objetivo do curso é formar médicos e médicas cidadãs, conectados(as)
com as necessidades de saúde da população e com o desenvolvimento científico e
tecnológico, com forte compromisso ético e social.
Em conexão com o perfil do egresso, o curso é
todo baseado em metodologias ativas de ensino, e utiliza sua integração com a
comunidade e os serviços como motor do processo ensino-aprendizagem.
Interdisciplinaridade é o mote de vários processos de ensino-aprendizagem e
avança em integrar não somente diferentes disciplinas da área de Saúde, como
também Direito, Novas Tecnologias de Ensino e Comunicação.
Resultados
A disciplina de Comunicação Comunitária surgiu de uma
demanda dos estudantes do curso, sendo oferecida, pela primeira vez, no
primeiro semestre de 2017. Nesse ano, a professora da disciplina, que é uma das
autoras do artigo, foi convidada pela coordenadora do curso de Medicina para
uma reunião cujo objetivo era saber como o curso de Comunicação poderia ser
parceiro num projeto de extensão de Medicina, que tinha a finalidade de alertar
a população da zona urbana e rural de Caruaru sobre a prevenção da diabetes.
A professora firmou a parceria e no mês de
abril de 2017 levou o grupo de estudantes do curso de Comunicação para uma atividade extra-classe no Centro
de Caruaru. Enquanto os estudantes do curso de Medicina chamavam a atenção da
população, que transitava pelo Centro da cidade, para os riscos e as formas de
prevenção da diabetes, os estudantes de Comunicação convidavam a população para
registrar tudo que estava acontecendo no local, como comunicadores - cidadãos.
Todo o registro era feito pelas pessoas da comunidade que tinham sido ou
estavam sendo atendidas pelo grupo de estudantes e professores de Medicina. Os
estudantes de Comunicação apenas explicavam a proposta e entregavam o celular
para as pessoas, que fizeram registros diversos, que iam da próprio atendimento
feito pelos profissionais da saúde até a fachada da igreja, onde a ação
ocorria.
Após esse primeiro contato, surgiu a ideia de
um trabalho envolvendo os dois cursos, que foi efetivado no segundo semestre de
2017. Além da inovação de unir dois diferentes campos, reunir estudantes de
diversos cursos, a ideia inicial da disciplina foi também trabalhar uma
metodologia ativa, integrada com a comunidade.
A parceria durou três semestres (2017.1,
2018.1 e 2018.2) e reuniu estudantes dos cursos de Comunicação, Medicina,
Pedagogia e Design. A formação interdisciplinar de todos os participantes do
curso promoveu a integração de novas experiências e conhecimentos, ajudando a
ampliar e aprofundar os temas discutidos no curso, que se alternavam entre
conceitos de Comunicação e da Promoção da Saúde. Em resumo, foram trabalhados a
Comunicação como Direito Humano, Educação Crítica da mídia, a importância da
mobilização para uma prática comunicativa contra-hegemônica, a Comunicação e
transformação social, Ccomunicação e participação, Promoção da Saúde e
determinantes sociais de saúde.
A avaliação dos alunos foi centrada no
planejamento e execução de um projeto de Comunicação Comunitária no qual eles
também deviam aplicar seus conhecimentos sobre Promoção da Saúde. A proposta de
trabalho era apresentada no primeiro dia de aula, para que os grupos, que
trabalhariam nas comunidades, fossem formados, as comunidades escolhidas, e
sobretudo, que tivesse tempo de uma aproximação entre os estudantes e os
moradores da comunidade na qual o trabalho iria ser desenvolvido.
No curso de Medicina, os alunos são
desafiados a desenvolver ações de promoção da saúde na comunidade, juntamente
com professores e profissionais de saúde. No curso de Comunicação,
especificamente na disciplina de Comunicação Comunitária, os estudantes são
convidados a desenvolver uma compreensão que a Comunicação Comunitária
realiza-se como parte de uma dinâmica de organização, mobilização social e
promoção da cidadania. É uma Comunicação que tem a proposta de transformação
social e, ao mesmo tempo, da construção de uma sociedade mais justa, abrindo a
possibilidade para a participação ativa do cidadão como protagonista do
processo.
Com esse entendimento, a partir das discussões
teóricas do campo da Comunicação e da Promoção da Saúde, os estudantes foram
realizando os trabalhos em comunidades de contexto popular, onde tinham alguma
aproximação. Como a universidade pública onde a disciplina foi ofertada é
construída num município para o qual convergem estudantes de inúmeras cidades
circunvizinhas, os projetos nas comunidades não se restringiram ao município de
Caruaru, sendo realizados em outras três cidades.
Ao “entrar” na comunidade, o primeiro momento
era de diagnóstico. Os estudantes deveriam levantar dados sobre cómo era
formação da comunidade (percentual de homens, mulheres, jovens, crianças), a
renda média das pessoas, as atividades econômicas, se as famílias recebiam
algum auxílio na renda por meio de algum programa do governo ou política
pública, o grau de escolaridade das pessoas, os maiores problemas encontrados
na comunidade. Além disso, os estudantes deveriam identificar se a comunidade
possuía postos de saúde, escolas, quais as áreas coletivas, os patrimônios culturais,
históricos e naturais, qual o potencial turístico, quais tipos de organização e
como se dava a participação feminina e dos jovens nas associações. Por fim, os
estudantes perguntavam sobre o que a comunidade sugeria para modificar os
problemas relatados, os desejos da comunidade e, o que pretendiam fazer para
alcançá-los.
Depois de ter um diagnóstico da comunidade,
apresentá-lo em sala de aula e ouvir as considerações dos colegas de curso e
das professoras, os estudantes voltavam para a comunidade para conversar sobre
Comunicação Comunitária e Promoção da Saúde, com o entendimento de que o papel
deles na comunidade era de contribuir para que a Comunicação fosse realizada,
não só para a comunidade, mas principalmente pelos integrantes da comunidade.
Uma comunicação horizontalizada, que devia refletir sobre problemas e
potencialidades do local. Era da comunidade, também, a escolha de treinamentos
na área de Comunicação, além de um projeto de Comunicação mobilizador, com participação
popular e transformador de realidades de vida, muitas vezes em situação de
vulnerabilidade.
Ao longo desses três semestres surgiram
inúmeros projetos, que pela falta de espaço não citaremos todos aqui. Mas a
título de exemplificação destacaremos o projeto “Vozes que ocupam” desenvolvido,
no segundo semestre de 2018, em um assentamento urbano, organizado pelo
Movimento Popular pela Reforma Urbana (MPRU) e pelo Movimento dos Trabalhadores
Sem Terra (MTST), na cidade de Caruaru.
Depois das fases de aproximação e diagnóstico da comunidade,
discussão sobre temas relacionados a Comunicação e a Saúde e oficinas de
Comunicação, surgiu a ideia de criar um programa de rádio para ser veiculado
pelo WhatsApp na comunidade. O programa, todo feito pelos moradores do
assentamento, se propôs a trazer à tona, como já aconteceu numa experiência
anterior realizada por (Mesquita, 2017, p. 11), “os problemas e também as
potencialidades do local, por meio de entrevistas, notas e quadros, sem deixar
de lado a música, a poesia e os informes da comunidade. O programa de rádio era
composto por temáticas ligadas a cultura, aos direitos humanos, a saúde, a
educação e ao meio ambiente”. Por fim, se propôs também a resgatar a memória do
assentamento.
Todo o processo de produção de conteúdos,
gravação, edição e veiculação do programa foi acompanhado pelos estudantes e
realizado pelos membros da comunidade. O programa piloto “Vozes que ocupam” ficou
com a seguinte estruturação: uma vinheta de abertura e finalização do programa,
a apresentação dos locutores e um pouco da história da comunidade, um quadro
para os informes do assentamento, anúncios de serviços prestados por
integrantes da comunidade; dicas de saúde; receitas culinárias; e por fim o
“Conte sua história, quadro, que no programa piloto, contou com a participação
da líder da comunidade.
Depois do relato de experiência de como foi
todo o processo de construção dessa interdisciplinaridade entre o curso de
Comunicação e Saúde na oferta da disciplina Comunicação Comunitária, passamos
para algumas compreensões sobre todo o processo interdisciplinar, a partir das
entrevistas realizadas com os estudantes. A primeira pergunta que lançamos foi
se havia possível uma interdisciplinaridade entre Comunicação e Saúde no ensino
da Comunicação Comunitária. Os onze estudantes (100%) responderam que sim,
ressaltando, ainda, que a interdisciplinaridade entre Saúde e Comunicação
contribuiu para uma maior atenção para as necessidades sociais e de saúde das
pessoas em situação de vulnerabilidade e que valeu a pena cursar uma disciplina
de Comunicação Comunitária trabalhando conteúdos de Comunicação e de Saúde.
Os estudantes apontaram como principal ganho
para sua formação: a aquisição de conceitos de Promoção de Saúde e a aquisição
de conceitos de Comunicação Comunitária, que tiveram o mesmo percentual
(90,9%), a aproximação de comunidades, ficou com 81,8%. Um estudante marcou a
questão “outros”, destacando que o ganho foi “conhecer um caminho tão interligado a comunicação, mas que muitas vezes não
é mostrado” (Estudante de Comunicação. Entrevista
Pessoal N°3. Março de 2019).
Uma das perguntas abertas: “como os
conhecimentos trabalhados nas duas disciplinas contribuíram para a realização
dos projetos desenvolvidos junto as comunidades” teve as seguintes respostas:
Os conteúdos em sala me mostraram que
promoção a saúde é um conceito muito mais amplo do que eu imaginava e também me
mostrou que a comunicação comunitária é muito importante para a sociedade como
um todo, o que me deixou mais inspirada na minha atividade (Estudante de
Comunicação. Entrevista Pessoal N°1. Março de 2019).
A partir dos
conhecimentos podemos produzir aplicar o projeto na comunidade, agora com mais
confiança (Estudante de Pedagogia. Entrevista Pessoal N°2. Março de 2019).
Meu maior ganho foi
ampliar a minha compreensão sobre precisar, quanto comunicadora, ser uma ponte
para a voz da comunidade e não falar por ela (Estudante de Comunicação.
Entrevista Pessoal N°3. Março de 2019).
No meu período não
teve trabalho em comunidade, mas os conhecimentos me ajudam muito até hoje a
respeitar os outros (Estudante de Comunicação. Entrevista Pessoal N°4. Março de
2019).
Sensibilizando os
alunos a entenderem e compreenderem a necessidade da comunicação comunitária e
sua importância para sociedade e como ela é transformadora na promoção à saúde
(Estudante de Comunicação. Entrevista Pessoal N°5. Março de 2019).
Entender que a
comunicação também é um fator de saúde comunitária mudou minha perspectiva na
hora de elaborar os projetos, e a partir disso, comecei a notar essa relação de
outra forma, o que me permite ter um olhar mais humano ao considerar esse fator
(Estudante de Comunicação. Entrevista Pessoal N°6. Março de 2019).
Conceitos de
comunicação e promoção a saúde abriu os caminhos para interlocução com os membros
da comunidade (Estudante de Comunicação. Entrevista Pessoal N°7. Março de
2019).
O ponto principal foi
elucidar os objetivos das ações de promoção de saúde/comunicação comunitária. A
gente tinha a ideia de uma coisa mais vertical e acabou descobrindo que é
exatamente o oposto (Estudante de Medicina. Entrevista Pessoal N°8. Março de
2019).).
Eu sou autoritária e
na disciplina quem fazia o trabalho final era uma comunidade, isso foi um
desafio enorme para mim. No final, eu amei a disciplina. Infelizmente, se
tratando da comunidade acabou que a página do Facebook se tornou institucional
e quando estávamos planejando queríamos que fosse algo para os alunos (Estudante
de Comunicação. Entrevista Pessoal N°9. Março de 2019).
Foi possível criar o
jornal (Estudante de Comunicação. Entrevista Pessoal N°10. Março de 2019).
Os textos ajudaram
muito mas aprender o conceito de promoção a saúde foi fundamental para o
desenvolvimento do projeto (Estudante de Comunicação.Entrevista Pessoal N°11.
Março de 2019).
Para entender a diversidade dos projetos
executados na disciplina foi feita a pergunta: ¿Qual o projeto que você
desenvolveu como conclusão da disciplina? Dois respondentes faziam parte da
equipe que executou o mesmo projeto, “Vozes que ocupam”, com um assentamento
urbano. Trabalho que foi mencionado aqui no artigo. Três trabalhos foram
desenvolvidos com adolescentes (um voltado para as questões de sexualidade,
envolvendo uma escola e um posto de saúde de uma comunidade de contexto popular
situada em Caruaru; outro na prevenção de violência no ambiente escolar, com a
criação de uma rádio-escola e, por fim, a criação de uma página na rede social
Facebook para a discussão de problemas relativos ao acesso à educação,
desenvolvido com uma comunidade de adolescentes de uma escola pública
caruaruenese). Com a comunidade de jovens foi realizado um projeto, que
envolveu dois estudantes resultando na criação, junto com os estudantes do
curso de Comunicação, de um jornal para o Diretório Acadêmico de Comunicação.
Houve ainda duas respondentes que trabalharam juntas com uma comunidade
religiosa de jovens na criação de uma página na internet sobre temas envolvendo
juventude e direitos.
Com relação ao acompanhamento da comunidade
após o término da disciplina, 81,8% responderam que não conseguiram, destacando
sobretudo a falta de tempo (54,5%) como motivo para desistência. Por outro
lado, 18,2% ainda seguiram com o projeto mesmo quando terminaram de cursar a
disciplina.
Outra pergunta aberta trouxe um dado que vem
surgindo nas conversas entre os estudantes do curso de Comunicação que cursaram
a disciplina: a necessidade de mudança no Plano Pedagógico do curso de
Comunicação da referida universidade para a inclusão da Comunicação Comunitária
como uma disciplina obrigatória e não eletiva, como é ofertada atualmente. Dos
oito respondentes, cinco afirmaram que a disciplina deveria ser obrigatória.
Uma disciplina muito
boa, merece se tornar obrigatória (Estudante de Comunicação. Entrevista Pessoal
N°1. Março de 2019)
Acho que comunicação
comunitária deveria ser uma disciplina obrigatória, por seu conteúdo científico
e humanitário (Estudante de Comunicação. Entrevista Pessoal N°2. Março de
2019).
A disciplina foi muito
rica, mesmo eu tendo pegado o início da fusão entre comunicação e medicina, foi
uma experiência muito enriquecedora (Estudante de Comunicação. Entrevista
Pessoal N°3. Março de 2019).
Acredito que a
disciplina deveria fazer parte da grade obrigatória do curso (Estudante de
Comunicação. Entrevista Pessoal N°4. Março de 2019).
Eu amei! Que venham
algumas outras fortalecer essa ligação que parece tão distante de uma forma
geral (Estudante de Comunicação. Entrevista Pessoal N°5. Março de 2019).
Apesar de acreditar
que abordagens práticas são benéficas ao aprendizado, acho que o tamanho dos
grupos foi um pouco proibitivo ao desempenho das ações. Uma ideia seria buscar
entre os alunos algum vínculo com um grupo excluído e agir nesse grupo como
turma, uma ou duas equipes. Talvez assim a gente dê conta de instrumentalizar
alguma iniciativa que já exista, ao invés de criar uma do zero (Estudante de
Medicina. Entrevista Pessoal N°6. Março de 2019).
Acho que seria
interessante que essa disciplina se tornasse obrigatória e que a turma junta
fizesse apenas um projeto em uma comunidade, pois assim a probabilidade de dar
certo é maior (Estudante de Comunicação. Entrevista Pessoal N°7. Março de
2019).
Maravilhosa mesmo,
acho que deveria ser obrigatória. Primeiro por nos fazer refletir o quanto a
promoção a saúde é importante na vida de qualquer ser humano e também por
estimular o estímulo a empatia e de prestar mais atenção no tipo de projeto que
eu posso desenvolver para pessoas ou no meu atendimento a elas. Amei! (Estudante
de Comunicação. Entrevista Pessoal N°8. Março de 2019)
Conclusões
O objetivo deste artigo foi compartilhar uma experiência
interdisciplinar no ensino da Comunicação Comunitária, com ênfase em práticas
de cidadania, envolvendo os cursos de Comunicação e Medicina de uma
universidade pública, situada na cidade de Caruaru, Nordeste do Brasil.
Estamos alinhadas com Peruzzo (2013, 176) no
entendimento de que a Comunicação Comunitária “contribui para formar cidadãos
capazes de compreender o mundo e de se organizar para transformá-lo”. E que
essa transformação acontece “na perspectiva do outro desenvolvimento,
participativo e sustentável, cuja economia seja estruturada para atender
prioritariamente as necessidades humanas”.
Embora teoricamente alguns autores, sobretudo
do campo da saúde, já discutam essa integração entre as Ciências da Comunicação
e o campo da Promoção da Saúde (Araújo& Cardoso, 2007), essa experiência de
unir dois campos distintos como a Comunicação e a Saúde no ensino de uma
disciplina não faz parte da realidade brasileira, o que resulta numa
experiência inovadora em nosso país.
Nos três semestres consecutivos do curso, o
que observamos de início era um estranhamento dos estudantes ao encontrar uma
médica e uma jornalista em sala de aula como professoras da disciplina
Comunicação Comunitária. ¿O que fazia aquela médica, que também era a
coordenadora do curso de Medicina da referida universidade, em uma sala de aula
apresentando as proximidades e possibilidades de trabalho conjunto envolvendo
os campos da Comunicação e da Saúde? A resposta e o fim do estranhamento
surgiam logo que as aulas construídas a partir derem questões como mobilização,
empoderamento, cidadania, iam sendo ministradas.
Nessa interdisciplinaridade entre os cursos
de Medicina e Comunicação, o desafio era proporcionar uma educação comprometida
com a atenção dos estudantes para as necessidades sociais e de saúde das
pessoas em situação de vulnerabilidade. A preocupação com a erradicação da
pobreza em todas as suas formas, a luta pelo direito à moradia adequada,
educação, saúde, proteção social sempre esteve na agenda dessa disciplina,
predominantemente ofertada por um curso de Comunicação, mas que se abriu a uma
experiência da interdisciplinaridade, acenando para a possibilidade de que, já
na formação, os estudantes tenham a oportunidade de compreender que os
processos de mudança e de transformação são constituídos essencialmente a
partir do diálogo.
Durante todo o processo envolvendo o ensino
da Comunicação Comunitária, a partir da junção dos campos de Comunicação e
Saúde, bem como nas atividades realizadas nas comunidades, as problematizações
foram centradas na reflexão de que a pauta da transformação social exige uma
Comunicação contra-hegemônica, mobilizadora, participativa e, portanto, cidadã.
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