Epistemologias e
descolonização na América Latina: compreendendo as mediações e a
transmetodologia como práxis epistêmico-metodológicas transformadoras
Eloy Santos Vieira[1]
Universidade
do Vale do Rio dos Sinos, Brasil
Leila Lima de Sousa[2]
Universidade
Federal do Maranhão e Universidade
do
Vale do Rio dos Sinos, Brasil
Resumo. Nosso
objetivo é debater sobre a importância da descolonização do pensamento
comunicacional para a Comunicação na América Latina. Assim, levantamos algumas
provocações capazes de contribuir para uma discussão mais complexa sobre outras
epistemologias e metodologias que emerjam de realidades originais e autóctones
e de contextos concretos que nos afetam, mas que nem sempre são observadas sob
critérios cabíveis à nossa história e à nossa realidade empírica. Desta forma,
acreditamos que conseguiremos dar um protagonismo maior aos processos
sociais circundantes e não ficaremos restritos a perspectivas binárias que
reconhecem apenas a recepção e/ou produção. Para isto, realizamos aproximações e confrontações
teóricas sobre a construção do pensamento ocidental e suas epistemologias para
então discutir sobre a constituição das Ciências Sociais e da Comunicação
enquanto campo e de sua trajetória dentro da América Latina. Ao fim, propomos
uma aproximação a partir de uma proposta de operacionalização das mediações e da perspectiva transmetodológica que se constituem como dois potentes
caminhos para pensar de forma concreta as configurações metodológicas a partir
da América Latina.
Palavras-chave: Epistemologia; Comunicação; Mediações; Perspectiva
Transmetodológica; América Latina.
Epistemologías y descolonización
en Latinoamérica: entendiendo mediaciones y transmetodologia como praxis
epistémica-metodológica transformadora
Resumen. Nuestro objetivo
central es discutir acerca de la importancia de la descolonización del
pensamiento comunicacional para la Comunicación en Latinoamérica. Para eso, proponemos
algunas provocaciones capaces de contribuir para una discusión más compleja acerca
de otras epistemologías y metodologías que emergen de las realidades originales
y autóctonas y de contextos concretos que nos afectan pero que no siempre son
observados bajo criterios que dialogan con nuestra historia y nuestra realidad
empírica. Así, esperamos priorizar una perspectiva en la que los procesos
sociales circundantes sean protagonistas de una construcción que no se limita a
perspectivas bipolares que reconocen solamente la recepción y/o la producción. Por
consiguiente, hacemos aproximaciones y confrontaciones teóricas acerca de la
construcción del pensamiento occidental y sus epistemologías y luego discutimos
acerca de la constitución de las Ciencias Sociales y de la Comunicación como
campos y de su trayectoria dentro de Latinoamérica y, al final, proponemos una
aproximación desde una propuesta de operacionalización de las mediaciones y de la perspectiva transmetodológica
que se constituyen como dos potentes caminos para pensar concretamente las
configuraciones metodológicas desde un punto de vista latinoamericano.
Palabras-clave: Epistemología;
Comunicación; Mediaciones; Perspectiva transmetodológica; América Latina.
Epistemologies and Decolonization
in Latin America: Understanding Mediations and Transmethodology as a
Transformative Epistemic-Methodological Praxis
Abstract. Our central argument in this paper is that we need a decolonized
perspective for Communication in Latin America. Thus, we propose points to
discuss about other epistemologies and methodologies that emerge from original
and autochthonous realities from concrete contexts that affect us, but which
are not always observed by appropriate criteria to our history and our
empirical reality. Therefore, we intend to emphasize the surrounding social
processes over restricted bipolar perspectives that only recognize reception
and/or production. In addition, we also make some theoretical approaches and
confrontations about the construction of Western Thinking and its
epistemologies and then discuss the constitution of Social Sciences and Communication
as a field and its trajectory within Latin America. In the end, we also suggest
an approximation from proposals to operationalize the mediations and the transmethodological
perspective that constitute two powerful ways to think concretely about the
methodological configurations from Latin America.
Keywords:
Epistemology; Communication; Mediations; Transmethodological Perspective; Latin
America.
Epistemologias e descolonização na América
Latina: compreendendo as mediações e a transmetodologia como práxis epistêmico-metodológicas
transformadoras
“Qual o lugar da
ciência?” Esta pergunta genérica é mais que um simples questionamento. Ela é
uma provocação que nos serviu de ponto de partida para uma reflexão
epistemológica que, apesar de estar sempre posta, nem sempre recebe a devida
atenção. Se partirmos da própria etimologia da palavra, ficam evidentes as
intersecções entre nossa prática científica e o pensamento filosófico, por isso
Japiassu (1977) salienta a centralidade que a ciência ocupa na nossa sociedade
contemporânea e questiona o que de fato é considerado Epistemologia: “O lugar
que a ciência ocupa na sociedade atual é tão grande e tão significativo que ela
se torna uma das mais importantes atividades humanas a ponto de constituir-se
mesmo numa das formas específicas da existência moderna do homem” (p. 144).
A Epistemologia, de uma
maneira geral, se ocupa de estudar a constituição do conhecimento,
compreendendo seus “princípios, as hipóteses e resultados” (Japiassu, 1977, p.
38). “Diz respeito à filosofia do conhecimento e à teoria do conhecimento,
cujas fronteiras não são facilmente reconhecíveis” (Cassirer, 1993, p. 5).
Muito além dos resultados, se ocupa dos processos para chegar ao conhecimento.
Podemos dizer que a Epistemologia é atravessada por todas as dimensões do
conhecimento e não existe separada dessas dimensões, não pretendendo teorizar
sobre qual o conhecimento deve ou não ser considerado válido.
Distante de dogmas, a
Epistemologia se propõe problematizá-los e a quebrar mitos na produção
científica. Assim, é marcada pelas rupturas: com o senso comum acadêmico, o
patrimonialismo, o patriarcalismo, os dogmatismos. Ao se valer da ideia do
conhecimento como um processo, também chama a atenção para a necessidade de o
observamos como uma construção coletiva, condicionada pelo contexto
sociocultural. (Japiassu, 1977; Cassirer, 1993; Norris, 2007; Maldonado, 2008).
É nessa perspectiva de entender o conhecimento
científico como resultado de sucessivas experimentações e testes que podem
romper ou dar continuidade aos paradigmas que foram construídos, que a abertura
ao erro se faz necessária. Para a construção de novas dinâmicas de produção do
conhecimento, o erro é fundamental porque dá as bases para a confrontação e
para a reflexão da ciência, de modo que possamos fugir da busca incessante de
um conhecimento verdadeiro, que não existe, e passemos a valorizar o processo.
Assim, formular teorias e paradigmas de modo
constante nada mais é que buscar uma vigilância epistemológica (Bourdieu,
Chamboredon & Passeron,
2010) ao fazer ciência. Ser vigilante não quer dizer esconder os erros, mas
usá-los como um caminho problematizador, reflexivo e que se propõe a
sistematizar as intuições e separar as induções das aparências e das crenças
naturalizadas.
Refletir criticamente sobre prática científica
tem como um dos primeiros caminhos romper com o senso comum acadêmico, que é
visto como um entrave na construção do conhecimento. (Japiassu, 1977; Maldonado,
2008). Desconstruir dogmas e ideias baseadas no teoricismo e no cientificismo é
um dos caminhos para uma ciência que foge aos sensos comuns acadêmicos, ao
engessamento e à falta de criticidade e de reflexão ao fazer ciência e a produzir
conhecimento.
Partindo da premissa de Morin (2008), percebemos
que as relações e os contextos passam a balizar novas discussões acerca da
produção do conhecimento e do desenvolvimento científico. E, lidar com a
natureza de conhecimentos relativos a um determinado contexto histórico, é o
tipo de tarefa pertinente exatamente às Ciências Sociais. É a partir delas,
também, que a passagem da crença à cultura torna-se evidente, por meio do
reconhecimento delas enquanto ciências propriamente ditas, como veremos adiante.
Para Bourdieu et al. (2010), a institucionalização dos
métodos e técnicas de pesquisa específicos para as Ciências Sociais tiveram
função fulcral para a constituição da área. Ao mesmo tempo em que critica o
Positivismo, destaca as imbricações entre metodologia e epistemologia, algo que
Wallerstein (1996) também reconhece e defende pelo modo como isso se refletiu
nas Ciências Sociais de forma particular a ponto de essas romperem com os
paradigmas das Ciências Naturais conforme descreve em boa parte de sua obra.
Wallerstein (1996), que trata da construção
histórica das ciências do século XVIII até o final da 2ª Guerra, defende que os
velhos paradigmas utilizados para balizar o desenvolvimento de praticamente
todas as ciências nunca funcionaram ou deixaram de funcionar, em especial nas
ciências sociais onde as fronteiras entre as áreas são bastante nebulosas e a
divisão interna em disciplinas é algo meramente administrativo na prática.
Depois desses primeiros rompimentos
epistemológicos com outros campos, as Ciências Sociais ainda apresentaram mais
alguns processos internos. Alguns deles são propostos por Haller (1990) e
Santos (2006) que demonstram algumas formas de rompimento com os paradigmas
questionados e apresentados por Wallerstein (1996).
Ambos seguem defendendo que a contextualização é
algo inerente às Ciências Sociais, mas fazem isso por caminhos diferentes.
Enquanto o primeiro defende que elas deveriam adotar o mesmo método da
filosofia sem separação entre o empírico e o transcendental, o segundo defende
a contextualização a partir da cultura que, segundo ele, foi negligenciada
pelos paradigmas descendentes das ciências naturais.
Em complemento a Haller (1990), Popper (1975) lembra
que a Filosofia sempre fez parte do desenvolvimento humano ao longo da
história, nem que fosse como algo meramente latente no cotidiano. Na ciência,
ter problema que demande explicações é o objetivo, diferente do senso comum,
onde o problema é algo indesejado (Popper, 1975).
...parece que, quando falamos de ciência, sentimos, mais ou menos nitidamente, que há alguma coisa característica da atividade científica; e como a atividade científica tem muito bem o aspecto de uma atividade racional, e como uma atividade racional deve ter alguma meta, a tentativa de descrever a meta da ciência pode não ser inteiramente fútil. Sugiro que a meta da ciência é encontrar explicações satisfatórias de qualquer coisa que nos impressione como necessitando de explicação. (p. 180)
Na outra ponta, em complemento à proposta de
Santos (2006), é possível perceber o movimento de Habermas (2000) ao defender
sua Teoria da Ação Comunicativa na qual propõe soluções para sair de um
paradigma centrado no sujeito por um centrado na razão comunicativa e assegura
que, apesar disso, não propõe um retorno ao purismo da razão pura (p. 420).
Para isso, reconhece a centralidade da cultura através da defesa da linguagem
que, para ele, deve ser estruturada a fim de que a racionalidade dependa diretamente
do contexto sociocultural, uma vez que ele a enxerga ancorada nas dimensões
prática-moral e estética-expressiva e não como mera dimensão
cognitiva-instrumental.
Podemos perceber, portanto, que a trajetória da
humanidade é indissociável de sua própria produção de conhecimento. Produção de
conhecimento esta que está sempre em construção através da linguagem, mas que
se efetiva como prática a partir da cultura e da comunicação, aspectos dos
quais devemos nos centrar daqui por diante para chegar ao cerne da nossa
discussão.
É possível verificar o movimento do conhecimento mencionado
anteriormente em vários países, porém é na França que Mattelart & Mattelart
(2004) percebem-no e o descrevem-no com afinco. A trajetória da Comunicação
deriva diretamente da questão da linguística e do discurso.
Foi ainda nos anos 1960, que a abordagem
transdisciplinar da cultura com um cunho semiológico, herdada diretamente de
Barthes, deu origem ao Centro de Altos Estudos de Comunicação de Massa
(Cecmas). Mas é só na década seguinte que a Comunicação ganha espaço. Mesmo
negligenciando aspectos históricos e até econômicos, os autores reconhecem a
importância dela na reestruturação social, econômica e política que o país
passava naquele momento.
O campo das mídias continua sendo o campo do lazer ao passo que a evolução tecnológica faz da comunicação e da informação um dos eixos maiores em torno do qual se reorganizava o conjunto das estruturas da sociedade francesa e das relações internacionais. (Mattelart & Mattelart, 2004, p. 50)
E complementam dizendo que: “[as] importantes
decisões não estão mais restritas a esfera Estado-nação, mas envolve as
tecnologias de comunicação e de informação como dispositivos estruturadores”
(Mattelart & Mattelart, 2004, p. 183). Por isso, ao relacionar comunicação e
desenvolvimento tecnológico, Muniz Sodré (2016) advoga acerca da importância de
se analisar e descrever os processos de comunicação eletrônica com a
epistemologia, pois, para ele, atualmente a comunicação eletrônica é epistemológica
por excelência, porque ela já está inserida em uma fase do capital intitulada
por ele mesmo como “turbo-capitalismo”.
Dentro de toda essa lógica turbo-capitalista, a Comunicação
está vinculada diretamente a uma ordem social e financeira que a torna um mero
valor fictício, e o poder do capitalismo é o poder das finanças (Sodré, 2015).
Assim, o turbo-capitalismo é diretamente
responsável pelo fim das barreiras geográficas a partir das estruturas de
mídia, tecnologia e comunicação globais. Capazes de proporcionar uma passagem
da comunicação unidirecional e heterogênea, para uma operacionalizada a partir
do conceito de pointcast. É sob as
lógicas da comunicação eletrônica que o espaço público – antigamente ampliado
midiaticamente – torna-se fragmentado pela mídia eletrônica: a internet.
(Sodré, 2015).
Desta forma, mais do que nunca, a comunicação
assume uma centralidade, não só na vida cotidiana, mas também na pesquisa com
novos objetos a serem investigados, que pedem cada vez mais que a Comunicação
reconheça nos meios de comunicação sua base empírica (Lima, 2000) como forma de
diferenciar-se de outras ciências e garantir subsídios epistemológicos para a
sua constituição enquanto campo científico.
Junto às tecnologias digitais e ao processo de
digitalização, que se configuram como contextos potentes de construção de
narrativas, as pesquisas contemporâneas em comunicação desenvolvem-se a partir
estudos anteriores que tinham como foco a manipulação, persuasão, influência e
as funções, para pensar nos diferentes e conflitantes contextos sociais que
atravessam os sujeitos e às suas percepções dos usos dos meios. As discussões voltam-se,
portanto, para a problematização dos receptores ativos no processo de
comunicação, que selecionam, interpretam, produzem e distribuem conteúdos e mensagens,
dotados de autonomia comunicativa e de habilidade de manusear mídias, a exemplo
da internet.
Nos estudos contemporâneos, verifica-se certa
abertura do campo que durante muito tempo se apoiou em pesquisas que
visualizavam emissores e receptores em polos separados e com rígidas divisões.
São revistas, também, as ideias sobre lógicas totalizadoras sobre o modo como
cada sujeito se apropriava dos meios de comunicação e sobre os estudos focados
no midiacentrismo, que dotavam a mídia de um superpoder de controle e
manipulação (Rodrigo Alsina, 1995; Wolf, 2008; Martín-Barbero, 2008).
Uma necessária abertura dos pesquisadores e das
pesquisas no campo da comunicação revela ser preciso pensar em novas ideias que
trabalhem a ruptura de paradigmas e que estejam focadas no contexto social,
onde as interações acontecem (Rossetti, 2016).
Para falar de Comunicação, estabelecemos um
importante e fundamental diálogo com a Cultura. É dessa imbricação que começam
as discussões epistemológicas acerca da instituição da Comunicação enquanto
campo. Eco (1984), quando traça essa mesma discussão acerca dos meios de comunicação,
parte do conceito de cultura de massa para propor reflexões que abandonem as
dicotomias que pairavam sobre a Comunicação desde suas gêneses arraigadas nas
perspectivas administrativas e críticas, uma discussão que segue presente no
campo da Comunicação apesar do passar dos anos, mas, que, segue sendo um
importante ponto de debate, na sua visão:
O apocalipse é uma obsessão do dissidente, a integração é a realidade concreta dos que não são dissidentes. A imagem do Apocalipse surge da leitura de textos sobre a cultura de massas, a imagem da integração emerge da leitura de textos da cultura de massas. Mas, até que ponto nós não nos encontramos diante de duas vertentes de um mesmo problema, e, até que ponto os textos apocalípticos não representam o produto mais sofisticado que se oferece ao consumo das massas? Neste caso, o binômio ‘apocalípticos e integrados’ não daria conta da oposição entre as duas perspectivas... (Eco, 1984, p. 13, tradução nossa)[3]
Rossetti (2016), que
trata da fundação propriamente da “Teoria da Comunicação” enquanto disciplina,
faz um balanço entre as perspectivas críticas e as funcionalistas e acaba
complementando a discussão travada por Eco (1984) anteriormente. A autora
levanta a bandeira de que, no final das contas, as dicotomias entre
“apocalípticos e integrados” não passam de falácias, uma vez que são olhares
complementares sobre os mesmos aspectos da Comunicação:
Tanto a Teoria da Comunicação Funcionalista quanto a Teoria da Comunicação Frankfurtiana são consideradas fundadoras desse esforço teórico específico para compreender o que é comunicação... Essas duas escolas possuem quase um século de pesquisa e teorização sobre o fenômeno da comunicação. Frente às profundas e velozes transformações sociais pelas quais o mundo passou neste último século, essas Teorias da Comunicação fundadoras tiveram que adaptar e atualizar seus conceitos originais de comunicação. Então, necessariamente ocorreram mudanças no interior dessas duas abordagens teóricas no que diz respeito a sua concepção de comunicação e seu posicionamento no interior da pesquisa social visto que o próprio fenômeno investigado estava em constante modificação. (Rossetti, 2016, p. 2).
Saindo dessa
perspectiva dicotômica, Wolf (2008) e Rodrigo Alsina (1989) trazem propostas
mais abrangentes e mais ou menos complementares acerca da constituição do campo
da Comunicação até a atualidade. O primeiro está preocupado com uma organização
cronológica, começando, portanto, das gêneses das teorias críticas e da
pesquisa administrativa, chegando até questões mais contemporâneas que pegam
inspiração nas teorias do jornalismo e na sociologia da Comunicação e a
reflexão sobre as compreensões e os usos do termo “cultura de massa”. É neste
último ponto em que eles se encontram, uma vez que Rodrigo Alsina (1989)
discorre sobre a constituição da Comunicação a partir da aproximação com as
ciências sociais.
Wolf (2008) traz como
elemento fundamental para problematizar a construção e a abertura do
conhecimento no campo da comunicação, questionamentos sobre cultura e
comunicação de massa. Segundo ele, o termo “sociedade de massa” é um
guarda-chuva que muitos teóricos utilizam de maneira conservadora, que veem a
“massa” apenas como um resultado da industrialização crescente e das novas
dinâmicas sociais vivenciadas com o melhoramento dos transportes e a
urbanização das cidades.
Mas, para além desta
visão quase maniqueísta, o autor complexifica um pouco mais o debate quando
afirma que “massa” seria uma nova forma de organização social de sujeitos. Ele
reconhece que os distanciamentos físicos, espaciais, simbólicos e culturais é o
que tornaria de fato essa “massa” suscetível à manipulação dos meios de
comunicação.
É necessário destacar que há muitos desencontros
sobre os significados de cada um dos termos (cultura de massa, sociedade de
massa, indústria cultural) e se partimos da ideia de cultura como algo dinâmico,
moldado e construído pelas relações que o homem estabelece com o mundo, é
necessário que tais termos sejam utilizados com o devido cuidado e reflexão.
Diante de tantas discussões sobre a fragilidade
do conceito de cultura/sociedade de massa, podemos dizer que a concepção de
massa como em tempos passados está superada, carece na contemporaneidade
problematizar de que modo as novas tecnologias e novas ideias do social
possibilitam outras discussões sobre a “massa” (Rodrigo Alsina, 1995).
Pensando nisso, ainda
na década de 1950, Rodrigo Alsina (1989), começou uma busca por “uma ciência
própria da comunicação a partir de correntes integradoras de distintas
disciplinas” (p.13) que poderia responder de forma mais completa a essas
provocações. Assim, a Comunicação passou a tornar seus, objetos e técnicas de
pesquisa antes compartilhados pelas diversas ciências sociais, especialmente
aquelas de cunho mais cultural e, desta forma, passou a se beneficiar
diretamente deste “entre-lugar” entre as outras ciências.
Rodrigo Alsina (1989) entende a comunicação
como uma “ciência-encruzilhada”. A ideia pode ser vista como algo enriquecedor,
uma vez que torna a Comunicação plural por natureza, mas também como algo
enfraquecedor, pois ao se aproximar de tantos outros campos, a Comunicação pode
acabar por não conseguir formar seu campo próprio. Uma dicotomia que, assim
como os apocalípticos versus
integrados, ainda pauta boa parte das discussões epistemológicas até hoje.
Na contramão destas
dicotomias, atualmente outros autores vêm travando discussões epistemológicas
pontuais acerca da construção do campo da Comunicação. Em Peruzzo (2016) e
Vieira, Coêlho &
Marques (2016) isso fica evidente quando eles discutem sobre novas abordagens
dentro do campo da Comunicação e trazem tensionamentos importantes como é o
caso da “pesquisa ação”, que traz questões importantes sobre o envolvimento de
pesquisador com sua investigação e a possibilidade de novos olhares sobre
subjetividades que vão surgindo a partir de correlações advindas do nosso
contexto atual.
Assim,
a partir dos estudos da linguagem e da cultura, a Comunicação lança mão de seus
primeiros passos para constituir-se enquanto campo e ter base para conquistar
espaço enquanto ciência quando se arriscam os caminhos iniciais para discussões
epistemológicas que questionem sua própria constituição, como pudemos verificar
através dos movimentos apresentados.
No entanto, estas
discussões, apesar de terem feito passagem para incorporar aspectos mais
subjetivos e/ou relativos à cultura, por vezes não privilegiavam discussões
fora dos contextos hegemônicos, exatamente os mesmos onde a Comunicação ganhou
suas primeiras raízes, sejam elas na Europa com as perspectivas críticas ou nos
Estados Unidos com a pesquisa administrativa. Assim, o que propomos aqui é
finalmente chegar numa discussão capaz de apontar questionamentos iniciais e
incitar provocações a partir de um olhar fora desses eixos e que possa
contribuir para uma discussão mais complexa da(s) epistemologia(s) da
Comunicação.
“A guerra é a
origem de tudo”. Ao invocar a famosa citação de Heráclito sobre a gênese da
história na Grécia Antiga, Dussel (1977) correlaciona a geopolítica e a
filosofia para então defender o que dá nome à sua obra “Filosofia da Libertação
na América Latina”. Desta forma, consegue explicitar as relações entre
dominantes (Europa e Estados Unidos) e dominados (América Latina) dentro dos
âmbitos da filosofia a partir de questões que circundam o desenvolvimento
conflituoso dessa região que se dá, sobretudo, a partir da cultura conforme
ilustrado com propriedade na metáfora de Rincón (2016) sobre o que ele chama de
“culturas bastardas”:
Temos uma só mãe que é a cultura local de onde somos – chilangos, caribenhos, cordobeses: essa é nossa localidade de significação e narração, nosso lugar cultural de enunciação e destino. E temos muitos pais dos quais fomos formados (mesmo que sem nos darmos conta). Um pai maldito se chama Televisa no México ou Globo no Brasil; mas também temos outros pais que se chamam ‘Hollywood’; e outros pais que se chamam culturas tradicionais populares musicais e religiosas; e mais pais esclarecidos e da academia; e também temos pais astecas, maias, incas; e somos filhos de redes populares do digital e da midiática, e das indústrias do espetáculo; e também filhos da zombaria, da aposta, do humor, da irreverência, da ironia. Temos muitos pais (populares, estéticos, narrativos), e por isso não somos puros e essencialistas, porém tampouco interculturais... (pp. 37-38)
Com
este excerto, fica evidente que Rincón (2016) atualiza uma discussão mais que
pertinente nas “arenas culturais”. Enne et
al. (2018) apontam que ao considerar as culturas populares como
“bastardas”, o autor colombiano estaria acionando diretamente os embates
travados por outros pesquisadores do Sul global como Nestor García Canclini e
suas culturas híbridas, Jesús Martín-Barbero e as mediações e a de Homi K.
Bhabha com a perspectiva intersticial de entre-lugar (1998, p. 69).
Tomamos
estas provocações como ponto de partida para convocar mais algumas formas
“bastardas” de ver o mundo. Boaventura de Sousa Santos (2006) pode ser
interessante como ponto de partida neste ponto devido à sua proposta das “epistemologias
do Sul”, que prevê a necessidade de se pensar além da Europa a partir de uma
concepção metafórica que coloca as epistemologias do Sul como uma expressão da
diversidade epistêmica global.
Para o
autor supracitado, o Sul, além de ser definido geopoliticamente como o conjunto
de países que foram alvos do colonialismo europeu desde o século XV e que, por
isso mesmo não foram capazes de alcançar o mesmo patamar de desenvolvimentos
social, político e econômico que aqueles do Norte, é também um campo vivo de
desafios epistêmicos como a mitigação de danos e impactos históricos causados
por esses processos históricos (Santos, 2006).
Por
isso, defendemos que as “culturas bastardas” coadunam diretamente também com a
proposta de “ecologia dos saberes” (Santos, 2006) uma vez que o conhecimento,
assim como a cultura, não deve ser visto como algo absoluto, mas sim como um
entre-lugar intelectual capaz de agregar novos conhecimentos sem esquecer os autóctones,
ou seja, ter a capacidade de extrapolar as narrativas de subjetividades
originárias e focar nos momentos ou processos que são produzidos a partir das
diferenças culturais (Bhabha, 1998, p. 20).
Morawicki
(2016) também é outro autor que defende esse pragmatismo quando o assunto é
produção de conhecimento na América Latina. A partir de estudos na interface
entre Comunicação e Educação na Argentina, ele defende que este movimento
epistêmico-cultural seja feito também a partir de uma articulação direta entre
as práticas sociais e as metodologias.
Para o autor, este movimento consiste em
promulgar uma espécie de “anti-teoria” de forma bastante pragmática porque
proporcionaria uma relação direta entre linguagem, experiência e práxis e isto,
para ele, é um grande ganho para a América Latina enquanto espaço de discussão
epistemológica da Comunicação e da Educação.
O interesse por continuar a tradição latino-americana que conecta a produção teoria com as práticas é, portanto, relevante para os campos da Comunicação e da Educação uma vez que é um espaço fundamentalmente constituído por práticas e que aspira a transformação dos modos hegemônicos de se fazer educação e comunicação. (Morawicki, 2016, p. 356)[4]
E,
retomando Santos (2006), é possível ter nele uma perspectiva que pode ser vista
como uma espécie de contra epistemologia que reconhece a
pluralidade de saberes (incluindo os não-científicos) em detrimento de uma
epistemologia geral. Este pensamento pode ser aproximado ao que é proposto por
Maldonado (2008) quando fala sobre as “epistemologias transformadoras” abrindo
caminho para a valorização e o respeito de diversidades e diferenças e também para
conhecimentos outros, que estão além da Europa e dos centros universitários, que
se efetivam nos conhecimentos ancestrais, nas artes, na música e nas culturas.
Mas o
que teria exatamente de tão diferente na América Latina capaz de gerar
“culturas bastardas”, “anti-teorias” ou “epistemologias do Sul” conforme apontadas
aqui? É numa tentativa mais descritiva que esclareceremos a partir do próximo
ponto.
Para trazer à
tona questões sobre a América Latina, visitamos as famosas “veias abertas” de
Galeano (1978):
É a América Latina, a região das veias abertas. Desde o descobrimento até nossos dias, tudo se transformou em capital europeu ou, mais tarde, norte-americano, e como tal tem-se acumulado e se acumula até hoje nos distantes centros de poder. Tudo: a terra, seus frutos e suas profundezas, ricas em minerais, os homens e sua capacidade de trabalho e de consumo, os recursos naturais e os recursos humanos. (p. 5)
Da
terra aos recursos humanos, a América Latina tem seu histórico completamente
arraigado ao colonialismo. E isso não seria diferente dentro da Comunicação.
Para tratar de algumas consequências práticas dessas “veias abertas” para a
pesquisa em Comunicação na América Latina, trazemos Martín-Barbero, que, assim
como Boaventura de Sousa Santos, apesar das origens europeias, dedicou-se ao
estudo das consequências das heranças colonialistas em diversos países, no caso
dele, focado na realidade latino-americana a partir da Colômbia, onde foi
radicado.
É no
final dos anos 1980 que ele descreve o cenário latino-americano para a pesquisa
em Comunicação. Em seu breve artigo sobre as dificuldades de se fazer pesquisa
na América Latina, descreve um cenário hostil no qual diversos países ainda
estavam passando por transições de ditaduras para democracias controladas e
fortemente influenciadas pelo crescente neoliberalismo dos países
desenvolvidos, o que acabava gerando um grande impasse entre o caráter
internacional da estrutura econômica e o caráter nacional da esfera política.
Por
isso mesmo, Maldonado (2013) lembra que:
O nosso habitat intelectual foi configurado em dinâmica e profunda inter-relação com as demandas econômicas, políticas, sociais e culturais das sociedades capitalistas, tanto na América Latina, quanto nos Estados Unidos e na Europa Ocidental. (p. 32)
Mais
precisamente, nas palavras de Mignolo (2006), é a partir da “colonialidade do poder” e da
“colonialidade do saber” que se
configuram as matrizes da produção intelectual na América Latina que é baseada
essencialmente em:
...aspectos epistêmicos coloniais, dentre eles o conhecimento fundado na relação sujeito e objeto, em que o objeto é subjugado pelo sujeito, assujeitado, portanto, a crença na superioridade da ciência e do saber ocidentais e no questionamento da existência de uma racionalidade para além da racionalidade forjada nas línguas maternas da Europa. (Piza & Pansarelli, 2012 p. 31)
É
pensando nessas categorias da colonialidade e de suas implicações, que se
estabelece, portanto, a necessidade da descolonização epistemológica para que
possamos ir além do que a Ciência Política ou as Relações Internacionais podem
compreender como descolonização[5]. Trazendo novamente o
pensamento de Dussel (1977) quando
defende que “toda teoria é política” e de Martín-Barbero (1988), que complementa tanto a ele quanto a Galeano ao dizer
que: “...a teoria é um dos espaços-chave da dependência” (Martín-Barbero, 1988,
p. 3, tradução nossa)”, a descolonização do saber e do poder podem
surgir a partir de rupturas teórico-epistemológicas, mas também das nossas
identidades.
Compreendemos
o processo de descolonização, portanto, como um processo de contraposição
epistêmica, de desvinculação do genuíno ocidental, a partir da
“pluridiversidade” (Mignolo, 2008, p. 300). Trata-se da tomada de consciência
mestiça e do desenvolvimento de uma identidade política de resistência.
A opção descolonial significa “aprender a desaprender”, ressignificar
narrativas, o processo de constituição dos sujeitos e a própria compreensão
destes. (Mignolo, 2008, p. 290).
No
tocante à Comunicação, Torrico Villanueva (2016), adiciona que no cenário
latinoamericano temos possibilidades claras para além dos modelos ocidentais e
colonizadores, especialmente diante das características de “caráter e potencial
subversivo” (p. 147) deste solo, perspectivas apontadas também por
Martín-Barbero (1988), Santos (2006) e Morawicki (2016), por exemplo, quando
defendem a potência de extrapolar dimensões estritamente científicas e a
possibilidade de deslocamentos maiores nos modos de se pensar a nossa realidade,
ponto que vamos explorar um pouco mais adiante neste texto.
Conforme já
apontado anteriormente, quando abordamos a pesquisa na América Latina, estamos
tratando, ao mesmo tempo, de questões acadêmicas, mas também políticas.
Pensando nisto, recorremos inicialmente ao conceito de “processos midiáticos”. Desta forma, esperamos garantir, primeiramente
uma perspectiva capaz de demarcar-se política e teoricamente no campo da
Comunicação, como também pela ênfase das processualidades de fenômenos sociais
midiatizados e não apenas suas estruturas.
Esperamos
que este texto seja um exercício para a construção de uma racionalidade
epistemológica da Comunicação que priorize os processos sociais circundantes e
não ficar restrito a perspectivas bipolares e binárias que reconhecem apenas a
recepção e a produção, neste sentido, deslocamos e ampliamos a discussão e a
reflexão sobre os processos sociais e midiáticos para além dos dois polos
citados, situando-nos diante de epistemologias amplas, diversas e transformadoras.
Em
consonância com isto, segundo Gomes (2017), é preciso defender que nós,
pesquisadores em Comunicação, podemos obter nesta perspectiva elementos
essenciais para - a partir da mídia e de seus processos estruturantes e modos
de produção – interpelar os inter-relacionamentos sociais e humanos
contemporâneos (p. 38).
Para
isto, os processos midiáticos podem ser o grande ponto de partida. Segundo
Gomes (2017), podemos entendê-los como um conjunto de práticas comunicacionais
pertencentes ao campo das mídias que operam mediante dispositivos (TV, jornal,
livro, fotografia, etc.) segundo diferentes linguagens (p. 36).
Os
processos midiáticos estão, pois, intimamente ligados às novas formas de
organização social e às novas relações sócio-técnicas que se estabelecem e originam
novas experiências de midiatização que não se fecham em si mesmos. Dialogam,
ainda que de modo tentativo, com outros processos complexos de diferentes
organizações, constituem-se de diferentes sistemas que têm como grande
interlocutor o ambiente e atravessam a dimensão social. (Gomes, 2017; Luhmann,
2005)
Braga
(2006) complementa esse conceito, pois, segundo ele, devemos prezar por uma
abordagem comunicacional transcendente, ou seja, uma abordagem que vá além da
visão informacional e não esgote a potencialidade dos processos midiáticos nos
subsistemas de produção e recepção. Sua ideia é incorporar o que ele chama de
“sistema de resposta social”. Esse conceito complementaria a processualidade de
midiatização social geral, uma vez que corresponde às interações sociais
baseadas em produtos midiáticos.
Ao fazer
esse movimento o autor aponta a necessidade também de reconhecer a perspectiva
das mediações de Martín-Barbero (2013). Segundo ele, a noção operacionalizada
pelo teórico espanhol radicado na Colômbia seria capaz de retomar o olhar
comunicacional que mencionamos, ao trazer para o “sistema social de resposta”
as bases do cotidiano e da cultura, ou seja, para que seja possível compreender
comunicacionalmente, devemos estar atentos ao contexto, isto é, a aportes pré e
extramidiáticos, algo que fica mais evidente na última atualização de seu mapa
(abaixo):
Figura 1 - Proposta de
atualização do mapa das mediações
Fonte: Lopes, 2018 (p. 19)
Esta
proposta adaptada por Lopes (2018) acerca da operacionalização das mediações
atualiza as propostas iniciais de Martín-Barbero (1987; 1998) porque repensa a
noção de comunicação na contemporaneidade, como é possível perceber a partir
dos seus eixos que estão focados, sobretudo, nas mutações da cultura
(Temporalidade, Espacialidade, Mobilidade e Fluxos).
Assim,
temos neste mapa noturno uma síntese atualizada e mais densa dessa proposta
que, apesar de reconhecer o protagonismo da cultura, da comunicação e da
política, não deixa para trás a importância de outras instâncias, especialmente
da sociedade através das práticas cotidianas destrinchadas a partir das
interpelações entre o popular e o massivo.
Ao
mesmo tempo, ele nos lembra de que, para que possamos lançar esse olhar
comunicacional, é necessário fazer uma crítica às perspectivas tecnocentristas[6] que
colocam todas as discussões sob a égide da tecnologia ao invés de reconhecer os
meios de comunicação como espaços-chave de condensação e intersecção de poder e
cultura. Em suma, o que a proposta das mediações pretende é fazer uma passagem
das estruturas aos processos. E é a partir disto que devemos balizar nosso
olhar.
Martín-Barbero
(1988) torna-se central nessa discussão porque recontextualiza o trabalho do
pesquisador das ciências sociais, especialmente daqueles que se dedicam à
comunicação de massa. De acordo com Zalamea (2008), juntamente com Rama e
Canclini, Martín-Barbero faz parte da tríade responsável por repensar os
Estudos Culturais na América Latina em sua 3ª fase que se deu entre os anos 1980
e 1990 e que se caracteriza pela transversalidade epistemológica ao incorporar
os aportes críticos, filosóficos e sociológicos e pelo aporte telescópico ao
analisar o local dentro da perspectiva global a fim de gerar uma cartografia
própria da América Latina.
Essas
características são frutos do que Zalamea (2008) chama de “inteligência de
trânsito”, isto é, a capacidade que temos enquanto conjunto de sociedades de
transitar entre diversas fronteiras. E este pode ser considerado o grande
trunfo da pesquisa latino-americana uma vez que, ao contrário do que aconteceu
na Europa, fomos capazes de transformar isso no grande combustível da nossa
produção acadêmica ao invés de ver como um empecilho, pois, “ao situar-se num
limite, numa margem, numa fronteira, a visão se multiplica: percebem-se vários
territórios de uma vez só, várias interpretações, vários desafios e versões da
mesma situação” (Zalamea, 2008, p. 71, tradução nossa). Ou seja, é partir das
fronteiras que o centro é acessado em via de mão dupla e assim ocorrem as
modificações nas perspectivas, nas recepções e na reelaboração e construção da
cultura.
Retomando
o pensamento Barberiano, temos na descrição da topografia movediça da América,
a partir do que ele mesmo chamou de “mapa noturno”, demonstrações evidentes
destas contradições da América Latina. Inclusive é a partir delas que ele
começa a indagar as estratégias de produção e comunicação massivas para propor
uma inversão de olhares às “mediações”, algo considerado até hoje como sua
maior contribuição, não só a nível latino-americano, mas mundial. É exatamente
o que aponta Schlesinger (2008) que destaca a importância de “De os meios às
medições” - obra na qual estruturou toda essa proposta - nos países
anglo-saxônicos. Para ele, foi a partir da proposta das mediações que temas
como identidades, desterritorializações e descentramento cultural ganharam novo
fôlego lá fora.
Ele
lança outro olhar sobre o processo comunicativo a partir do conceito de
mediação, muito bem discutido por Ollivier (2008). Segundo o autor, as
mediações não têm apenas um conceito e é isso que as tornam ricas em
possibilidades teórico-metodológicas. Para ele, as mediações podem ser pessoas,
processos mentais (linguagem, imaginários, identidades, etc.) ou sociais,
instâncias sociais ou até o próprio inconsciente que sejam capazes de
“traduzir” as proposições de uma instância para a outra até chegarem numa
espécie de acordo com o intuito de resolver conflitos interculturais (p. 122).
Sendo
assim, o autor aponta que a riqueza das mediações está em conseguir criar uma
teoria social da comunicação baseada no paradigma da comunicação capaz de
abranger dimensões culturais, sociais, antropológicas e até linguísticas, pois
reconhece que a mediação é uma instância prioritariamente cultural a partir da
qual o público produz o sentido do processo de comunicação. Portanto, ao
apropriar-se disto, a pesquisa sobre os meios de comunicação de massa deve
reconhecê-los como fenômenos que extrapolam as dimensões meramente comerciais e
econômicas, também atuando nas dimensões culturais e sociais porque participam
da criação de identidades e do sentido na vida cotidiana (Ollivier, 2008, pp.
127-128).
Ou
seja, quando relacionamos com questões contemporâneas caras à globalização,
como a crescente necessidade de se estudar processos locais com olhares
globais, percebemos que os mediadores da comunicação têm tarefas cada vez mais
imbricadas com processos que, assim como a globalização, são culturais,
sociais, políticos e econômicos ao mesmo tempo. Desta forma, o papel destes
mediadores é criar pontes entre as práticas sociais e culturais das audiências
e os conhecimentos racionais da modernidade a fim de dar sentido ao cotidiano,
às identidades de forma alinhada com o capitalismo e com a globalização,
assumindo, portanto, tarefas que os mediadores políticos não conseguem mais
dentro desse cenário.
A
grande consequência da operacionalização do conceito de mediações para a
pesquisa em Comunicação na América Latina é que, ao partir das culturas
populares e do cotidiano das audiências, elas garantem as possiblidades de, ao
mesmo tempo, romperem com os dois grandes paradigmas do nosso campo.
Primeiramente
a ruptura (teórica) com o funcionalismo norte-americano por inverter o sentido
do controle político do povo por parte da burguesia e dar uma nova roupagem à
noção de cultura de massa, reconhecendo que as relações entre as culturas
populares e massivas não são unívocas nem se dão em reprodução direta e que,
portanto, são complexas de tal forma que demandam um olhar heterodoxo e uma
epistemologia que fuja de maniqueísmos (Orozco & Miller, 2008).
Além
disso, é devido a essa complexidade que a perspectiva nos permite abrir um
flanco na teoria crítica, pois, ao inverter o sentido do controle político do
povo por parte da burguesia e da noção de uma nova cultura de massa,
Martín-Barbero reconhece, a partir das telenovelas como base empírica, que a
mediação não é só o processo de recepção das mensagens, mas sim todo o processo
de produção e difusão de bens simbólicos (Ortiz, 2008). Ou seja, ao partir das
mediações ele não estaria pesquisando apenas acerca da recepção, mas sim sobre
a relação paradoxal entre o popular e o massivo envolvidos num processo de
midiatização.
Por
isso, defende que as mediações estão dentro das indústrias culturais e são elas
(jornalistas, produtores, autores, etc.) as grandes responsáveis por transitar
entre as necessidades socioculturais, políticas e mercadológicas. Desta forma,
toda a noção frankfurtiana de uma Indústria Cultural maniqueísta capaz de
controlar as massas não condiz com a contemporaneidade, especialmente na
América Latina e, assim, este paradigma epistemológico também é rompido.
Não
obstante, apesar de reconhecer o papel fundamental das mediações na pesquisa em
Comunicação, especialmente no segmento voltado às audiências, é de fundamental
importância garantir sua flexibilidade e adaptabilidade para que não se tornem
antiquados. Pensando nisto, Huertas Bailén (2015) propõe atualizações importantes
ao mapa de Martín-Barbero (vide Lopes, 2018) que dão conta de algumas demandas
contemporâneas que envolvem, sobretudo, o contexto das audiências na cultura
digital.
Ao
todo, a pesquisadora propõe que consideremos pelo menos mais cinco mediações. A
primeira delas seria a “mediação individual” e interseccional”. Segundo ela, o
protagonismo do indivíduo deve ser levado em conta na pesquisa, mas tendo em
vista sempre o paradigma da interseccionalidade, que abarca questões de idade,
gênero, origem cultural, dentre tantas matrizes de identidade. A segunda seria
a “mediação contextual e institucional”, que diz respeito diretamente aos
protocolos de comportamento, ou seja, levar em conta as formas e os lugares
(casa, trabalho, bar) em que o consumo midiático é realizado.
Enquanto
essas duas primeiras mediações se preocupam diretamente com as audiências, as
outras três se preocupam com o contexto, especialmente com as possibilidades
advindas da materialidade como é o caso da terceira mediação, a “programática”,
que diz respeito à hibridização das linguagens midiáticas e sua relação com os
códigos de recepção marcados pelos diferentes gêneros midiáticos. A quarta
mediação tem uma estreita relação com esta terceira e trata mais diretamente da
questão tecnológica, ou seja, do agenciamento da tecnologia em relação à
sociabilidade por meio dos suportes digitais. E, por último, a “mediação
transcultural”, que trata diretamente da relação entre Globalização e a
capacidade de diálogo com “o outro”.
Tendo
em vista essa atualização proposta por Huertas Bailén (2015), passamos a
discorrer logo adiante sobre a necessidade de a Comunicação também discutir
sobre a centralidade do digital e dos processos de digitalização quando falamos
de fenômenos culturais contemporâneos.
A suposta
“evolução tecnológica” e os embates entre os chamados “novos” e os “velhos”
meios são temas muito caros à pesquisa contemporânea em Comunicação. Eles
ganham destaque sob a alcunha do que se chama de “convergência”, conceito capaz
de concatenar, ao mesmo tempo, preocupações concernentes à tecnologia, à
cultura e à comunicação. Para nós, obviamente, cabe o debate sob a ótica
comunicacional, mas sem esquecer de todo o contexto por trás desse olhar.
É
neste cenário em que a TV, considerada por muitos uma “velha mídia”, assume, ao
lado da internet e das chamadas “novas mídias”, a centralidade em diversos
processos que caracterizam a chamada “cultura da convergência”, mas nem sempre
essa relação foi harmoniosa, conforme relembra Huertas Bailén (2015):
Cada um dos meios de comunicação observou inicialmente a internet como uma inimiga perigosa. Podemos dizer que houve até um momento em que se pensou que tudo voltaria a ser como era antes, mas, finalmente, como era de se esperar, optaram por estarem presentes também no digital e buscar fórmulas para monetizar conteúdos. Acabaram vendo na rede, finalmente, condições de novas oportunidades ao invés de novos problemas. Mas, essa transição para o digital não está sendo nada fácil e, do ponto de vista social, a brecha digital indica que esse será um processo inevitavelmente lento. (versão kindle, tradução nossa)
Os objetos
inseridos neste contexto tratam-se necessariamente de objetos situados no ponto
de encontro entre a “cultura participativa” –descrita por Jenkins (2009) como
constituinte essencial da cultura da convergência– e as indústrias culturais (Vieira
& Silva, 2018, p.317).
Umberto
Eco (1984) já refletia sobre esses embates há algum tempo. Para ele, essa nova
televisão esvazia-se politicamente e mistura ficção com informação a fim de
sustentar uma suposta realidade em que só há lugar para ela mesma e seu próprio
público. Já em Ladeira (2016), há uma
visão bem menos fatalista acerca da TV do século XXI e muito mais técnica em
relação à fluidez do conteúdo a partir das possibilidades de digitalização e,
por conseguinte, do streaming, o que
não significa dizer que seria menos crítica.
De
acordo com o autor citado acima, não é só porque estamos lidando com uma
evolução tecnológica que devemos deixar para trás o processo que nos levou à
passagem do analógico para o digital.
No fundo, o que o alerta dele pode nos dizer é
que o que precisamos fazer enquanto pesquisadores em Comunicação é reconhecer
que há de fato uma valorização exacerbada da tecnologia e fazer um esforço
epistemológico para vê-la na verdade como uma parte do que estamos estudando.
Por isso mesmo torna-se imprescindível, sob uma ótica comunicacional, pensarmos
as configurações comunicativas nas mediações e focar no que as possibilidades
técnicas implicam nas práticas comunicativas contemporâneas.
Acreditamos
que epistemologias transformadoras (Maldonado, 2008) se fazem fundamentais
para pensar as necessárias interrupções, continuidades e crises na prática
científica e também na abertura dos diversos campos, sobretudo o da Comunicação,
a outros saberes e novas perspectivas teóricas e práticas, destacando as novas
configurações dos sujeitos e de sua percepção dos meios diante de uma nova
dimensão do social. A perspectiva
transmetodológica (Maldonado, 2013) potencializa essas
necessárias aberturas das ciências ao trocar a rigidez metodológica pela
necessária experimentação e pelo diálogo e concretização das trocas
transdisciplinares.
Com
base na discussão estabelecida acima, discorremos adiante sobre mais uma
possibilidade além das mediações: a perspectiva transmetodológica.
A opção transmetodológica é, na verdade, um
potente recurso e aporte metodológico para pensar e incitar a emergência de
epistemologias transformadoras nas investigações em Comunicação. Mais do que
isso, é também uma necessidade
epistemológica que emerge da complexidade para se lidar com o cenário atual em
que a cultura da informação, do conhecimento e da experimentação, transforma-se
simultaneamente à tecnologia e ao processo de digitalização. Sendo assim, temos
nessa opção norteadora alguns elementos-chave que nos ajudam a problematizar o
processo de produção de nossas investigações comunicativas, a saber:
O mais latente talvez seja exatamente a
necessidade de uma epistemologia de continuidade em relação ao pensamento
latino-americano e não necessariamente de ruptura com outras perspectivas
críticas anteriores e colonizantes. Além disto, podemos compreender também que
a pesquisa pode ter a finalidade de aprendizado, ou seja, a pesquisa torna-se
práxis central para o aprendizado humano e não necessariamente
instrumentalizada. E, ao lado destes dois processos, é preciso também
considerar o caráter complexo e multidimensional da construção do
sujeito/pesquisador e do objeto de pesquisa.
A perspectiva transmetodológica nos estimula,
então, a assumir uma decisão metodológica de compreender os sujeitos como
“sujeitos comunicantes”, na tentativa de romper com visões e discursos
funcionalistas que os compreendem como receptores, usuários ou informantes.
Assumimos e reconhecemos que os sujeitos são políticos, históricos, sociais,
produtores de informação e de comunicação (Maldonado, 2013).
Além destes esforços, podemos destacar outros
que concernem diretamente ao papel do sujeito/pesquisador e da construção da
sua metodologia para estudar os contextos que envolvem os sujeitos
compreendendo que eles são também construídos entre um emaranhado de processos
sociais e subjetivos.
O que esperamos é assinalar que não há neutralidade
nos procedimentos metodológicos que desenvolvemos (Alves, 2014), muito pelo
contrário, a ideia é, assim como aponta Bonin (2013), reconhecer que “a
metodologia precisa se realizar em profunda articulação com a dimensão
epistemológica para que possa se constituir como fabricação pensada dos
objetos, dos processos e dos resultados do conhecimento” (p. 27). Por isso mesmo uma perspectiva histórica e
contextualizante se faz necessária.
Segundo Maldonado (2006), é impossível
fundamentar um projeto de pesquisa qualquer sem um esforço sistemático de
exploração, aprofundamento e compreensão dos tecidos de ideias, conceitos,
raciocínios, argumentos, proposições, matrizes e modelos (p. 286). Dessa
maneira, compreendemos que a mirada reflexiva, história e contextualizante para
as realidades concretas e para os cenários que atravessam os objetos, faz parte
de uma tomada de decisão epistêmico-metodológica para a produção de
investigações crítico-reflexivas. É diante desse deslocamento investigativo que
discutimos nos próximos tópicos sobre as perspectivas transmetodológicas e das
mediações como trilhas processuais para a configuração de novas e concretas
epistemologias em solo latino-americano.
No processo de produção da investigação e da nossa
constituição como sujeitos, precisamos de olhares apurados e do entusiasmo pelo
fazer. É nesse sentido que Bourdieu et
al. (2010), aproximando-se também do que propõe Cassirer (1993), nos
alerta sobre a necessidade de aproximação com o objeto de pesquisa e a análise
das afetações mútuas resultantes desse processo.
De acordo com a análise dos autores, não podemos
desligar as nossas observações dos contextos sociais e históricos nos quais os
sujeitos estão inseridos e da problematização teórica constante que nos
auxiliará na construção do objeto dentro de uma realidade que lhe circunda.
Cada objeto pressupõe técnicas diferentes de análise e de observação, esse é um
processo necessário para fundamentar os deslocamentos teóricos-metodológicos
que precisamos atravessar e também para refletir sobre a prática científica (Cassirer,
1993; Bourdieu et al., 2010).
Corroborando com as ideias acima, Bachelard
(2001) trabalha a necessidade da percepção de afetações e transformações mútuas
entre sujeito e objeto como um caminho importante para a ruptura com o senso
comum acadêmico (Japiassu, 1977).
É assim também que Morin (2008) compreende
sujeito e objeto como indissociáveis. Ambos são sujeitos históricos, detentores
de saberes e de múltiplos referentes culturais e identitários. Sem perder de
vista os valores, crenças, saberes e sensibilidades envoltas nesse processo, e
sob um olhar transmetodológico, os sujeitos e os contextos concretos que
os circundam, não podem ser apenas entendidos como informantes ou como mero
receptores, antes, precisam ser observados em sua autonomia constitutiva, como sujeitos
de ação, de práxis, de problematização e de resistência, que possibilitam novos
olhares e percepções para as dimensões teórico-metodológicas da pesquisa. (Maldonado,
2008; Bourdieu et al., 2010; Peruzzo, 2016).
Diante do que foi proposto acima como um caminho
para a análise crítica da postura do pesquisador e de suas práticas
científicas, entendemos que o pesquisador precisa estar em contato com outros
sujeitos, observando-os e sendo construído por eles, levando em consideração
que cada sujeito é dotado de uma razão que não pode ser dissociada da sua
natureza. (Habermas, 2000).
No caso de nossas investigações em Comunicação,
essa articulação deve ser realizada a partir do rompimento com perspectivas
logocêntricas, priorizando o que Maldonado (2006) chama de “práxis teórica” ao
nos apropriarmos, problematizarmos e reformularmos propostas, matrizes e
modelos a partir dos estudos culturais e de recepção de raiz latino-americana.
Com isto, esperamos também nos posicionarmos
criticamente ao marxismo contemporâneo, mas sem deixá-lo necessariamente de
lado conforme recomenda Sartre (2011): “Não se deve rejeitar o marxismo, mas
reconquistar o homem no seu âmago” (p. 72). Um movimento que deve ser realizado
ao incorporar características microssociológicas (Piketty, 2014) capazes de se
articular com as grandes matrizes e, portanto, garantir uma articulação entre a
construção do objeto empírico, da teoria e da proposta metodológica.
Essa articulação entre a proposta metodológica e
a construção da empiria é de suma importância para nós, pesquisadores em
Comunicação, uma vez que lidamos com fenômenos por vezes tão cotidianos, mas
que, nem por isso, merecem menos atenção.
Dada essa (oni)presença midiática, por vezes
podemos cair em generalizações construídas na confrontação entre o conhecimento
empiricamente regulado e historicamente contextualizado (Corcuff, 2015), e,
para que isso não ocorra, é preciso, portanto, reconhecer a complexidade desses
fenômenos e dos possíveis tensionamentos que podem existir entre empiria e
teoria por conta disso (Pedroso & Bonin, 2012).
Dessa maneira, uma necessária abertura no campo
da Comunicação para o questionamento dos estudos realizados na área, bem como ao
diálogo com outros campos e o exercício de ruptura com os pensamentos
Funcionalistas e Frankfurtianos, já revisitados, mas ainda presentes em muitos
discursos teóricos, permite o apoio no pensamento de Michèle Mattelart e Armand
Mattelart (2004) sobre a crise na produção do conhecimento em Comunicação.
Os autores propõem que os paradigmas usados para
estudar a Comunicação precisam ser repensados de modo a problematizar a
informação e o direito à comunicação e também em trocas mais concretas entre
local e global. Faz-se necessário pensar a produção local e assim se abrir a um
espaço global de comunicação. (Mattelart e Mattelart, 2004).
As reflexões epistêmico-metodológicas devem ser
buscadas através de um distanciamento crítico que possibilite visualizar como
as mudanças causadas pelo remodelamento dos sistemas de comunicação afetam
nossas vidas e o modo como os percebemos e nos apropriamos dos meios de
comunicação.
Maldonado (2008) também corrobora com as
perspectivas trazidas por Mattelart e Mattelart (2004) ao alertar que
precisamos pensar além da centralidade dos meios, compreendendo a comunicação a
partir dos atravessamentos presentes no campo, percebendo dessa forma a
multidimensionalidade da comunicação.
Acreditamos que,
as mediações pensadas por Martín-Barbero constituem-se como um primeiro caminho
para compreender que a “recepção” do conteúdo dos meios ocorre de modo não
linear e com base nas relações estabelecidas entre os sujeitos e os seus
referentes simbólicos. Assim, podemos perceber um sujeito ativo, reflexivo e
problematizador, que modela suas percepções dos meios de comunicação através do
seu cognitivo, do contato com a técnica e também com o social e com a memória.
O
olhar para a autonomia dos sujeitos e para os contextos concretos que os
atravessam, configura-se, na nossa percepção e proposição, como um potente
ponto de intersecção entre as mediações e as
proposições da perspectiva transmetodológica, fundamentando e
concretizando a criação de epistemologias transformadoras no
campo da Comunicação.
Isso
implicaria em mudanças de diretrizes e na revisão dos estudos ainda focados no
funcionalismo e no cientificismo, ampliando a abertura e a problematização das
investigações da América Latina pelo exercício dialógico com os saberes
populares e regionais, pensando a Comunicação a partir da cultura.
Assim,
tanto a Comunicação quanto a Cultura devem ser vistas como campos de exercício
de poder, de luta e também como espaço de resistência, de emergência das
culturas populares. Espaços esses que sofrem mutações, aprimoramentos,
atravessamentos diversos e que devem impulsionar um saber emancipador,
permitindo que o sujeito se transforme de maneira ativa e reflexiva e viva o
seu conhecimento do mundo e do outro, alcançando, por fim, o conhecimento de si
mesmo.
Ambos os conceitos, partem de uma decisão e
posturas epistêmico-metodológicas adotadas pelo pesquisador no sentido de
compreender o modo como os contextos concretos, em suas complexidades e
particularidades, são fundamentais para perceber as relações entre os sujeitos
e para com os meios de comunicação.
A partir dessas relações é que os arranjos e o
desenho metodológicos devem ser pensados. A transmetodologia e as mediações, do
modo como julgamos, acionam deslocamentos para a necessária e fundamental
abertura dos estudos do campo da Comunicação para os contextos nos quais os
sujeitos se situam e que interferem nas suas percepções sobre os meios de
comunicação, também para o poder de decidir o que consumir ou não e de se
apropriar dos meios não apenas como audiências, mas como produtores de
conteúdo. Também para eleger alguns meios em detrimento de outros, por exemplo.
Martín-Barbero
(2008) traz ao debate a reconfiguração das mediações a partir de uma nova
constituição dos sujeitos e do contexto no qual se vinculam, assim, destaca as
tecnologias comunicacionais e o seu papel histórico de mediação do conhecimento
e da política. É dessa forma que as novas tecnologias abrem espaço para expor
as lutas dos sujeitos pela comunicação e pela valorização de igualdades e de
diferenças culturais, reivindicando o exercício de cidadania.
O
debate sobre as novas tecnologias e sobre a autonomia dos sujeitos traz também
a recuperação do sentido de comunidade e de pertença locais, necessários para a
compreensão de mundo dos sujeitos e o modo como irão se apropriar dos meios. A
rede, na visão do autor, precisa ser entendida como um espaço que possibilita a
ação e a emancipação, ainda que também seja marcada por contradições, como por
exemplo: a disparidade de acesso e a exclusão dos que não possuem o domínio das
ferramentas. A rede e as mediações reconfiguradas por ela, possibilitam pensar
em novos modelos do social e novas ligações entre local e global (Martín-Barbero,
2008).
Ainda
sim, não defendemos uma sobreposição ou uma visão binária entre novas e velhas
mídias. Defendemos que a internet, dentro de uma perspectiva de “novas
tecnologias”, traz à tona o debate sobre a potência e o surgimento de espaços
alternativos de comunicação e de produção de cidadania contra hegemônicos,
pelos usos e apropriações particulares que podem ser dadas a ela, uma vez que,
dentre tantos usos e apropriações, essas ferramentas de comunicação e de mídia
podem ser usadas pelos cidadãos de modo tático a fim de potencializar e de tornar
visíveis demandas que durante muito tempo foram negadas às camadas
populacionais mais subalternizadas.
A realidade contemporânea reivindica pensar em epistemologias
transformadoras e também em métodos que possibilitem aproximação e diálogo
com os sujeitos pesquisados, verificando que a experiência humana e os vários
tipos de conhecimento devem estar unidos e serem a base da pesquisa em Comunicação
social do século XXI (Maldonado, 2008). É imprescindível observarmos que a
pesquisa científica é nutrida dos saberes populares, históricos, diversos e
heterogêneos.
Assim, se faz preciso pensar o conhecimento científico
além de lógicas institucionais e mercantilistas, compreendendo-o como emergente
do contexto social. A epistemologia transformadora nos leva a perceber que a
prática cientifica também se ocupa da vida e das existências, dos
atravessamentos que nos são necessários e impulsionadores na trajetória
acadêmico-científica. (Maldonado, 2008)
O que podemos apreender da proposta de operacionalização
dos conceitos de mediações dialogando
com a perspectiva transmetodológica
para a pesquisa em Comunicação na América Latina, é que, ao partir das culturas
populares e do cotidiano das audiências, elas conseguem romper, ao mesmo tempo
com os dois grandes paradigmas do campo.
Em
primeiro lugar, rompe com o funcionalismo norte-americano por inverter o
sentido do controle político do povo por parte da burguesia e dar uma nova
roupagem à noção de cultura de massa, reconhecendo que as relações entre as
culturas populares e massivas não são unívocas nem se dão em reprodução direta
e que, portanto, são complexas de tal forma que demandam um olhar heterodoxo e
uma epistemologia que fuja dos maniqueísmos (Orozco, 2008).
Em segundo lugar, algo semelhante ocorre com a
perspectiva crítica por essa mesma complexidade. Dado que, toda aquela noção
Frankfurtiana de uma Indústria Cultural maniqueísta capaz de controlar as
massas não condiz com a contemporaneidade, especialmente na América Latina em
que o binômio “produção e recepção” tão caros à concepção marxista, não fazem
mais sentido quando confrontadas com perspectivas mais complexas como a das
mediações e da transmetodologia.
Por isso, discutimos sobre essas duas correntes
de pensamento latino-americano que tem a práxis como ponto de partida em comum
e se aproximam no sentido de compreender que cada objeto carece de métodos e
técnicas diferentes de análise e de observação. As combinações metodológicas,
por exemplo, resultam das particularidades do olhar do pesquisador, que ao
aproximar-se do sujeito pesquisado, também é afetado por suas visões de mundo,
suas percepções (Martín-Barbero, 2008).
Desta forma, as mediações e a perspectiva
transmetodológica, a nosso ver, se aproximam e dialogam na medida em que se
constituem como dois potentes caminhos para pensar de forma concreta as
configurações metodológicas desde a América Latina problematizando os
contextos, os múltiplos saberes, as diversidades e as diferenças dentro das
pesquisas em Comunicação.
As duas concepções permitem a reflexão sobre o
percurso metodológico de modo mais amplo, rompendo com engessamentos e com
lógicas binárias. Fazem possível compreender os sujeitos como co-partícipies do
processo comunicativo, construindo, assim, conhecimento a partir de uma perspectiva
que esteja adequada à realidade em que vivemos.
Alves,
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[1] Doutorando
em Ciências da Comunicação (Universidade
do Vale do Rio dos Sinos, Brasil), Mestre em Cultura, Economia e
Políticas da Comunicação (2016) pela UFS. https://orcid.org/0000-0003-4989-8125
[2] Docente da
Universidade Federal do Maranhão – Campus Imperatriz. Doutoranda em Ciências da
Comunicação (Universidade do Vale do
Rio dos Sinos, Brasil). https://orcid.org/0000-0003-2335-0858
[3] Do original: “El Apocalipsis esa uma obsesión del
dissinter, la integración es la realidade concreta de aquellos que no
disienten. La imane del Apocalipsis surge de la lectura de textos sobre la
cultura de masas; la imagen de la integración emerge de la lectura de textos de
la cultura de masas. Pero, ¿hasta qué punto no nos hallamos ante dos vertientes
de um mismo problema, y hasta qué punto los textos apocalíticos no representan
el produto más sofisticado que se oferece al consumo de masas? En tal caso, la
fórmula ‘apocalípticos e integrados no plantearía la oposición entre dos...”.
(Eco, 1984., p. 13)
[4] No original: “El interés por continuar la
tradición latinoamericana que conecta la producción teórica con las prácticas
es, por tanto, relevante para el campo de Comunicación y Educación, ya que es
un espacio fundamentalmente constituido por prácticas y que aspira a la
transformación de los modos hegemónicos de hacer educación y comunicación.” (Morawicki,
2016, p. 356)
[5] Para outros campos, o processo de descolonização está
muito mais ligado ao processo de independência de diversos países durante o
século XX e não necessariamente tem o mesmo caráter epistêmico que o termo
carrega para outras áreas, como é o caso da Comunicação. Um exemplo disso está
disponível na resolução da ONU sobre o seu Comitê Especial para Descolonização.
Disponível em: < https://www.un.org/es/decolonization/questions_answers.shtml> Acesso em 18 de abril de 2020.
[6] Vale lembrar que ele aprofunda essa crítica às perspectivas
tecnocêntricas no artigo “Razón Técnica y Razón Política: espacios/tempos no
pensados” quando aborda a ascensão simbólica da tecnologia em detrimento do
esvaziamento da política a partir de uma abordagem heideggeriana (vide Martín-Barbero,
2004).